13ª edição do Dia de campo da Santa Brígida

Devido à pandemia, a 13ª edição do Dia de campo da Santa Brígida, que seria realizada presencialmente em 2020, teve que ser cancelada. No ano de 2021, ainda com esse cenário de lockdown, nos reinventamos e resolvemos fazer o Encontro Internacional Santa Brígida Open Farm.
Evento 100% virtual, e que conta com a participação de grandes pesquisadores e autoridades no assunto. Claro que fazer o dia de campo presencial é insubstituível. No entanto, o evento virtual trouxe a grande vantagem de reunirmos em um só evento grandes autoridades no assunto e poder alcançar pessoas de todo Brasil e de todo mundo.

Santa Brígida Open Farm é um encontro virtual que aborda temas de relevância internacional sobre a produção integrada e sustentável no trópico brasileiro, utilizando a tecnologia da Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF). Sua primeira edição ocorreu nos dias 9 e 10 de junho de 2021.

 

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A integração lavoura-pecuária-floresta está revolucionando a agropecuária do Brasil

Pesquisador da Embrapa diz que, além de diversificar produção, ILPF traz benefícios como menor pressão por abrir novas áreas e mitigação dos gases do efeito estufa

Nos últimos 20 anos, houve um notável incremento da área com sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) no Brasil, saltando de menos de 2 milhões para cerca de 16 milhões de hectares. Esse aumento se deve em grande medida aos esforços em pesquisa e desenvolvimento aliados a ações de transferência de tecnologia.

Ao longo desse tempo, os sistemas ILPF ganharam visibilidade e reconhecimento como capazes de promover, de forma sustentável, a intensificação do uso do solo e a diversificação da produção em uma mesma área.

Soma-se a isso, outros benefícios indiretos, como o potencial de reduzir a pressão para a abertura de novas áreas para produção, via desmatamento, e a oferta de serviços ecossistêmicos, como a mitigação de gases de efeito estufa. A relevância dos sistemas ILPF foi reconhecida com a Política Nacional de ILPF (Lei nº 12.805/2013) e pela sua inclusão como um dos pilares do Plano ABC e Plano ABC+.

O portfólio de projetos em ILPF da Embrapa trabalha com base em “desafios para inovação”, apontados e priorizados pelo setor produtivo. Entre eles, está a recuperação de pastagens degradadas e sua reintegração ao sistema produtivo, item apontado como prioritário pelos produtores.

Em 2018, o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig) estimou em 170 milhões de hectares a área com pastagens no Brasil. Desse total, 97,7 milhões de hectares apresentavam algum indício de degradação, e os sistemas ILPF são alternativas tecnológicas viáveis para a recuperação e manutenção da produtividade desses pastos.

A recuperação de pastagens utilizando culturas agrícolas tem o propósito de amortizar os custos pela renda obtida com a safra de grãos, cobrindo despesas com a correção do solo e o plantio do capim.

Nesse processo, no ciclo de pecuária, a pastagem se beneficia da adubação residual deixada pela produção de grãos, e o ciclo subsequente de grãos se beneficia pela melhoria das condições físico-químicas do solo proporcionados pela pastagem.

A perspectiva de pagamento por serviços ambientais e a diferenciação de mercado proporcionada pela produção sustentável são vantagens potenciais importantes para quem adota a integração lavoura-pecuária-floresta, pois agregam valor.

É importante dizer que os sistemas integrados também estão agregando sustentabilidade à produção de proteína animal. Com o protocolo Carne Carbono Neutro (CCN), a produção se dá em sistemas de integração que possuem o componente florestal, o qual é responsável pelo sequestro de carbono, possibilitando a neutralização da emissão de metano pelos animais, além de proporcionar conforto térmico pelo sombreamento das pastagens.

Já sob o conceito Carne de Baixo Carbono (CBC) são utilizados sistemas integrados sem o componente florestal, no qual o manejo adequado do pasto proporciona o sequestro de carbono no solo, mitigando as emissões dos animais em pastejo. O desenvolvimento e aplicação desses conceitos de produção sustentável é um novo modelo de inovação e negócios, representando uma importante estratégia de agregação de valor aos produtos agropecuários brasileiros nos mercados internos e externos.

“É importante que se mantenha uma atenção especial e apoio às instituições envolvidas em ações de transferência de tecnologia, assistência técnica e extensão rural”

Ladislau Skorupa

A ILPF atingiu sua maioridade e sua adoção deverá continuar avançando. Contudo, para que esse avanço ocorra de forma consistente, é importante que se mantenha uma atenção especial e apoio às instituições envolvidas em ações de transferência de tecnologia, assistência técnica e extensão rural, uma vez que são os mediadores naturais entre a pesquisa agropecuária e o produtor rural.

Por fim, é bom lembrar que, mesmo com elevado grau de consolidação no país, em especial no Centro-sul, os sistemas ILPF ainda enfrentam desafios a serem superados. É necessário aprimorar os diferentes sistemas existentes, propor configurações mais adequadas a cada região, continuar a divulgação de informações sobre os sistemas e promover ajustes tecnológicos junto aos atuais adotantes para maximizar os benefícios desses sistemas.

*Ladislau Skorupa é engenheiro florestal, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente e presidente do Portfólio ILPF da Embrapa

As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Revista Globo Rural.

Fonte: https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Opiniao/Vozes-do-Agro/noticia/2021/06/integracao-lavoura-pecuaria-floresta-esta-revolucionando-agropecuaria-do-brasil.html

Agropecuária brasileira ajuda a salvar o planeta, reconhece a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

A ILPF(integração lavoura-pecuária-floresta), a agricultura de precisão e a tecnologia baseada em ciência já levaram o Brasil ao ser um dos maiores exportadores globais de commodities. Agora, o agronegócio brasileiro começa a ser reconhecido como uma peça importante no tabuleiro global dos impactos das mudanças climáticas e pode contribuir para salvar o planeta.

O desenvolvimento da atividade agrícola brasileira acaba de ser citado em um importante relatório do secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC), relacionado aos trabalhos realizados no âmbito da reunião de Koronivia para a agricultura. O UNFCCC é o tratado internacional resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. O Koronivia uma instância importante nas negociações sobre agricultura, dentro da UNFCCC, que busca valorar a importância da agricultura e da segurança alimentar na agenda de mudanças climáticas.

“Trata-se de uma citação importante para o Brasil, porque representa o reconhecimento do valor da pesquisa agropecuária em benefício do desenvolvimento nacional, que dá visibilidade à ciência agrícola brasileira como referência mundial”, diz Gustavo Mozzer, pesquisador da Embrapa (Empresa de Pesquisa Agropecuária Brasileira), que integra a equipe do Polg (Núcleo de Políticas Globais) da gerência de relações estratégicas internacionais da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas, responsável pela coordenação do trabalho, com o apoio do Portfólio de Mudança do Clima.

A ILPF, por exemplo, é citada como a responsável por contribuir com a segurança alimentar e o desenvolvimento socioeconômico. A agricultura de precisão e a tecnologia baseada em ciência são reconhecidas por elevarem a produtividade e reduzirem em 50% o preço dos alimentos. O conjunto da obra contribui para a segurança alimentar, o desenvolvimento sustentável e a renda dos agricultores.

O secretariado da UNFCCC destaca no texto que a produtividade brasileira aumentou 386% e a área agrícola apenas 83%. Isso significa a preservação de 120 milhões de hectares de floresta. “A chave para isso foi o investimento do Brasil em políticas públicas relevantes e tecnologia de base científica”, diz o texto, ressaltando a promoção da agricultura, baseada na intensificação sustentável, a inovação tecnológica, a adaptação às mudanças climáticas e a conservação dos recursos naturais. Ainda de acordo com o relatório, “o Brasil pretende continuar esses esforços e usar oportunidades de cooperação intercâmbio de conhecimento e apoio multilateral como estratégias-chave para alcançar o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar”.

De acordo com Mozzer, no ano passado foram encaminhadas duas submissões ao processo de negociação na UNFCCC. Uma delas sobre temas relacionados à pecuária e aspectos socioeconômicos dos sistemas de produção agrícola e a segunda com foco no diálogo sobre terra e oceanos, e do reforço de ações voltadas à mitigação e adaptação às mudanças do clima que ocorreu durante a COP (Conferência das Partes) virtual no final de 2020.

O resultado do trabalho, coordenado pela Polg, assegura que os componentes científicos estratégicos para agricultura nacional e para a Embrapa sejam incorporadas como elementos das negociações relacionadas à agricultura no contexto da negociação internacional sobre mudança do clima. “Em alinhamento aos interesses nacionais, isso tem dado visibilidade e o devido reconhecimento aos fundamentos científicos que caracterizam a tecnologia agrícola tropical desenvolvida pela Embrapa e outras instituições parceiras”, afirma Mozzer. “Em consequência, caminhamos para um reconhecimento do potencial de sustentabilidade do produto agrícola nacional.” (Com Embrapa)

Fonte: https://forbes.com.br/forbesagro/2021/05/agropecuaria-brasileira-ajuda-a-salvar-o-planeta-reconhece-a-convencao-quadro-das-nacoes-unidas-sobre-mudanca-do-clima/

Rede ILPF entra na briga para atrair investidores em sistemas de integração no País

Renato Rodrigues, biólogo, pesquisador da Embrapa Solos, no Rio de Janeiro (RJ) e presidente do Conselho Gestor da Associação Rede ILPF. Foto: Divulgação/Embrapa

Lideranças da entidade querem alcançar US$ 1,4 bilhão em recursos para o projeto brasileiro nos próximos seis anos

Nesta semana (29/9), a Associação Rede Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, a Rede ILPF, apresentou oficialmente o fundo Financiamento Facilitado para Agricultura Sustentável (SAFF, na sigla em inglês). O foco, a partir de agora, é mostrar a outros  investidores nacionais ou estrangeiros o quanto a transformação de uma área de pastagem degradada em uma área mais produtiva, com maior lotação de animais e com mais atividades agregadas à criação de gado, pode ser mais lucrativa para eles também.

O aporte inicial anunciado foi de US$ 86 milhões, vindos do Banco Mundial. Para os próximos meses, está na agenda dos diretores da Rede ILPF reuniões com mais investidores. As rodadas de negócios prometem ser bem intensas, segundo o biólogo Renato Rodrigues, pesquisador da Embrapa Solos, no Rio de Janeiro, e presidente do Conselho Gestor da Associação Rede ILPF. A meta é somar US$ 1,4 bilhão dentro de seis anos.

“A pecuária é o ponto principal dessa história”, afirma Rodrigues.

Criada em 2012, a Rede ILPF passou a ser uma associação em 2018. Entre os seus associados estão Embrapa, Bradesco, Ceptis, Cocamar, John Deere, Soesp e Syngenta. O fundo servirá, justamente, para acelerar o propósito do grupo: tornar cada vez mais áreas de pastagens degradadas em sistemas mais produtivos com algum dos 4 tipos de consórcio: pecuária-lavoura, pecuária-floresta, lavoura-pecuária-floresta ou lavoura-floresta.

A meta para os próximos dez anos é que o País saia de uma área de 16 milhões de hectares de ILPF para 30 milhões de hectares. Além de elevar a produtividade da pecuária, da média atual de 1,2 unidade animal ( 1 UA equivale a 450 quilos) por hectare, para uma lotação de até três UAs por hectare.

Benefício a quem investe

Desde que a Rede ILPF se tornou uma associação independente, ela começou a programar esse grande passo para a captação de recursos. A aposta deu certo. O aporte do Banco Mundial já é a segunda da fila. A primeira foi uma captação a fundo perdido de US$ 23 milhões, vinda do governo britânico para monitorar o desempenho dos sistemas integrados.

No entanto, a aposta, daqui para frente, é criar fundos que rentabilizem os investidores, como é o SAFF. “Em época de economia mais travada se torna cada vez mais difícil captar recursos a fundo perdido. Por isso, fizemos uma modelagem financeira que permite a atratividade ao fundo, com um retorno garantido ao investidor”, explica Rodrigues.

O retorno financeiro do SAFF é entre 7,2% a 12,2% ao ano, aos investidores iniciais, e de 5,5% ao ano, para os investidores que forem entrando posteriormente. A operação ficará a cargo do Bradesco, associado à Rede ILPF, e à gestora de fundos brasileira JGP.

O tempo de permanência mínima é de dez anos no fundo. Além do retorno financeiro, os investidores terão nas mãos vantagens como o acesso a um mercado de créditos de carbono que também será estruturado através do fundo.

Quem terá acesso?

A ideia é que o fundo opere sempre em linha com projetos de ILPF desenvolvidos pela Rede e seus associados, ou que sejam de interesse dos investidores. Nesse primeiro momento, segundo Rodrigues, o fundo apoiará propriedades em sete Estados: Paraná, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, totalizando 90 mil hectares.

O pecuarista terá taxas que variam de 4,5% ao ano a 9,1% ao ano. Conforme o produtor avance no desempenho de sustentabilidade, que serão monitorados, as taxas de juros podem cair até 25%. Isso fará com que a taxa de 4,5% ao ano passe para 3,38% ao ano.

“Quanto maior forem os índices de sustentabilidade da fazenda, menores serão suas taxas”, afirma o presidente da Rede ILPF.

Além do benefício financeiro, os produtores contarão com assistência técnica gratuita no que for necessário para a conversão de sua área e a certificação da propriedade.

Para o futuro é esperado que seis Estados se fortaleçam com o incremento de áreas consorciadas: Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Rio Grande do Sul e São Paulo. No entanto, para Rodrigues, o Nordeste também deve ter bons resultados.

“A região do Sealba, que compreende os Estados de Sergipe, Alagoas e a Bahia, mais o Matopiba, em sua totalidade, também podem ter grande crescimento da adoção de sistemas de integração”, diz Rodrigues.

 

Fonte: https://www.portaldbo.com.br/rede-ilpf-entra-na-briga-para-atrair-investidores-em-sistemas-de-integracao-no-pais/

Necessidade de redução das emissões de carbono alavanca sistemas ILPF no mundo

A demanda global pela descarbonização da economia, como forma de frear o aquecimento global, está levando muitos países a estimularem a adoção de sistemas sustentáveis, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Os cenários e tendências da ILPF no mundo foram discutidos durante o II Congresso Mundial sobre sistemas ILPF, que iniciou nesta terça-feira de forma virtual.

Assim como no Brasil políticas como o Plano ABC e Plano ABC+ buscam ampliar a área com tecnologias de baixa emissão de carbono, países como Nova Zelândia e Austrália possuem políticas visando acabar com as emissões líquidas de carbono na agricultura e pecuária até 2030 e 2050, respectivamente.

De acordo com o palestrante Richard Eckard, da Universidade de Melbourne (AUS), há um incentivo para produtores plantarem árvores em pastagens e áreas de lavoura como forma de sequestrar carbono. O governo australiano, por exemplo, já vem realizando leilões de compra de créditos de carbono gerados por produtores.

Eckard mostrou ainda que o uso de árvores em sistemas silvipastoris com ovinocultura tem trazido benefícios relevantes, como a redução em 10% da morte de cordeiros devido ao conforto térmico gerado pela proteção tanto do calor quanto do vento em períodos frios.

“Créditos de carbono sozinhos não são capazes de fazer com que produtores plantem árvores. Mas combinando os benefícios múltiplos, isso pode incentivá-los. Estamos trabalhando para mudar isso”, afirma Eckard.

Demanda do mercado

Além de ser uma política dos governos, neutralização das emissões de carbono visa atender um mercado crescente por produtos com baixa emissão ou com emissão líquida zero de carbono.  Grandes empresas já estão demandando esse tipo de produto, principalmente na Europa.

De acordo com Paul Burgess, da Cranfield University, no Reino Unido, algumas redes de supermercados inglesas já estão comprando apenas carnes vindas de fazendas que utilizam técnicas sustentáveis na pecuária. Esse movimento vem incentivando o aumento da adoção de sistemas silvipastoris. Já são adotados há anos em países europeus, esses sistemas agora estão sendo conduzidos com maior diversificação das espécies arbóreas.

A maior complexidade dos sistemas integrados, no entanto, é um desafio para os produtores europeus, que têm dificuldade de mão-de-obra no campo, disse o palestrante.

Os países da América Latina, por sua vez, têm nos sistemas ILPF a oportunidade de garantir o suprimento desse mercado cada vez mais exigente em produção sustentável de alimentos. Luis Valderrama, da Universidad de Colombia, diz que para esse potencial ser alcançado é preciso investimento dos governos, sobretudo apoiando pequenos agricultores. Para ele, a descarbonização da produção agropecuária pode trazer bom retorno aos produtores, com aumento da rentabilidade com a venda de madeira, de créditos de carbono e com recebimento de prêmio pago pela produção sustentável.

 

Dificuldades

Na África e na Ásia os sistemas ILPF como são usados no Brasil ainda são raridade. Nesses continentes, as formas mais comuns de sistemas integrados são as agroflorestas e algumas poucas áreas com sistemas silvipastoris. O indiano e professor na University of Florida, P. K. Ramachandran Nair, explica que há dificuldade em obter estatísticas sobre a área de adoção de ILPF nesses países e que a estrutura fundiária, baseada em pequenas propriedades e com baixo nível tecnológico, dificulta a adoção.

“Se a ILPF for vista como uma tecnologia para adoção em larga escala e com intensificação da produção, o potencial de adoção é limitado na região. Muito mais por aspectos sociais e econômicos do que por questões de condições de terra e clima”, afirma P. K. Ramachandran Nair.

Já nos Estados Unidos, Alan J. Franzluebbers, do USDA- North Carolina State University, mostrou que o setor agropecuário ainda vive um momento de alta especialização e concentração das terras, que resulta no mínimo uso de sistemas ILPF. Porém, ele afirma que o interesse pelos sistemas mais diversos começa a surgir na medida em que se observam os resultados econômicos. Questões ambientais, afirma, serão importantes para mudar as tendências.  

O painel Sistemas de ILPF no Mundo foi moderado pelo pesquisador da Embrapa Solos e presidente do conselho gestor da Rede ILPF, Renato Rodrigues.

 

Congresso 

II Congresso Mundial sobre Sistemas ILPF (World Congress on Integrated Crop-Livestock-Forestry Systems) ocorre nos dias 4 e 5 de maio de forma virtual. Reúne cerca de 1.300 participantes e conta com 30 palestras e apresentação de 156 trabalhos científicos. O evento é promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Embrapa, Rede ILPF, Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul e Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul. 

 

Fonte: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/61173800/necessidade-de-reducao-das-emissoes-de-carbono-alavanca-sistemas-ilpf-no-mundo

Rede projeta 35 milhões de hectares com sistemas de ILPF até 2030 | Embrapa

A Associação Rede ILPF lançou um desafio para o Brasil em um dos painéis on-line do II Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (WCCLF 2021), nesta terça-feira (4/5): chegar em 2030 com 35 milhões de hectares com sistemas de ILPF, o dobro da área atual, e com sistemas integrados 50% mais produtivos, com pelo menos 3 milhões de hectares com integração lavoura-pecuária-floresta certificados e monitorados. “Com isso, conseguiríamos duplicar a produção brasileira de grãos, carne e leite, e transformaríamos de fato o Brasil na primeira grande potência agroambiental do planeta”, afirmou Renato Rodrigues, pesquisador da Embrapa Solos (RJ) e presidente do Conselho Gestor da Associação Rede ILPF.

O pesquisador também apontou uma grande oportunidade para o País conseguir neutralizar todas as suas emissões de gases de efeito estufa, a partir de cálculos e projeções feitos por pesquisadores da Rede ILPF. “Se convertermos metade da área [de 90 milhões de hectares] de pastagem degradada que temos hoje no Brasil para sistemas de ILPF, nós conseguiremos tornar o Brasil um país carbono neutro, ou seja, conseguiremos neutralizar todas as emissões de gases de efeito estufa não só do agro, mas de todos os setores, incluindo energia, indústria etc.”

Rodrigues salientou que os desafios colocados são enormes, mas é possível superá-los. “Claro que precisaremos de tempo para converter metade dessa área de pastagens degradadas e aumentar as áreas com sistemas de ILPF, mas nós estamos avançando rápido. Saímos de menos de 2 milhões de hectares de ILPF em 2005 para 11,5 milhões em 2015. Hoje já temos 17,4 milhões de hectares.”

O Brasil é reconhecido mundialmente como potência da agricultura e importante produtor de alimentos, com uma trajetória de sucesso nas últimas quatro décadas, período em que aumentou 60% das áreas para cultivo de grãos, enquanto a produção subiu 390%. “Isso representa um ganho de 200% em produtividade e um efeito poupa-terra de 200 milhões de hectares. Isso foi possível com agricultura baseada em ciência, empreendedorismo do produtor rural, forte atuação do setor privado, com parcerias público-privada como a Rede ILPF, além de políticas públicas e crédito rural”, lembrou o pesquisador.

Rodrigues também destacou a sustentabilidade da agricultura brasileira, apontando que o País consegue produzir enquanto preserva a natureza. “Hoje temos 66% da vegetação natural preservada, sendo que 20,5% estão dentro de áreas de produtores rurais, que são um grande agente de proteção dessa vegetação nativa.”

Desafios e oportunidades
Mas são muitos os desafios impostos para as próximas décadas. Globalização, crescimento populacional, esgotamento de recursos naturais, mudanças climáticas, degradação dos solos, necessidade de terras produtivas, urbanização crescente e complexidades geradas pela pandemia, aponta Rodrigues, exigirão ainda mais da agropecuária do Brasil, que tem papel fundamental na segurança alimentar do planeta.

“Lidar com esses desafios requer uma abordagem sistêmica que gerencie as complexidades de maneira sustentável, responsável e ética. O mundo tropical possui o que é preciso para transformar essa realidade. O Brasil tem um sistema muito bem estruturado de ciência e inovação no agro, possui clima adequado, terras que se encontram em algum nível de degradação e que ainda podem ser convertidas para terras mais produtivas. E contamos com o empreendedorismo tanto do produtor e do setor privado quanto do setor público”, ressalta.

Os sistemas de produção de alimentos baseados em baixa produtividade e que não tenham foco na saúde do ser humano e na conservação do meio ambiente não podem existir mais, de acordo com o pesquisador. “Temos o nível de consciência do consumidor cada vez maior, a necessidade de se adaptar às mudanças de climas futuros e a intensificação sustentável da produção. E os sistemas integrados de produção são a solução, em todas as combinações possíveis dos componentes lavoura, pecuária e floresta.”

Esses sistemas integrados são, segundo Rodrigues, passíveis de serem adotados por qualquer produtor, seja de pequeno, médio ou grande porte, em todos os biomas e em vários formatos, pois se adequam a qualquer realidade de propriedade rural. “Além disso, sistemas de ILPF adicionam valor ao produto e aumentam a qualidade ambiental da fazenda, reduzem a necessidade de abertura de novas áreas, com a capacidade de produzir mais em uma mesma área, e também mitigam e reduzem a emissão de gás de efeito estufa. A Rede ILPF vem trabalhando para promover e incentivar a adoção de sistemas integrados para o benefício sociedade. Por isso não atuamos só com produtores, a rede atua desde a indústria de insumos até o consumidor final, passando por todas as etapas de dentro da porteira”, concluiu.

Futuro promissor
Paulo Herrmann, presidente da John Deere do Brasil, também participou do painel e fez projeções otimistas sobre o avanço dos sistemas de ILPF e da agropecuária no Brasil. Ele lembrou que uma série de fatores fizeram com que o agro tropical brasileiro se tornasse tão pujante ao longo dos últimos 50 anos, chegando a uma produção atual de 275 milhões de toneladas de grãos.

Fruto, segundo ele, do investimento em ciência e tecnologia pelo poder público, a partir da criação da Embrapa, em 1973, e também do trabalho e empreendedorismo dos produtores, que apostaram desde as décadas de 1960 e 1970 na adoção do sistema plantio direto, muito eficaz no combate à erosão e na retenção de carbono no solo. Herrmann também salientou a importância fundamental da transformação produtiva do Cerrado e, já nos anos 1990, do advento da segunda safra, possíveis graças ao investimento em pesquisa e inovação. “E agora vem o coroamento de todo esse esforço, com os sistemas de integração entre o grão, a pecuária e a floresta, que estão sendo adotados não somente por pequenas propriedades. Cerca de 35% da área de grãos do Brasil já estão, de uma maneira ou outra, integrados”.

Herrmann acredita em um crescimento ainda mais forte do agro em um futuro próximo. “Nos próximos dez anos, com os investimentos que estão acontecendo neste momento em energia solar, em irrigação, em máquina agrícola, em semente e em molécula, dentro da propriedade, agregados aos investimentos direcionados na logística brasileira, para que os produtos sejam escoados para os portos mais rapidamente e de maneira mais barata, o agro brasileiro dará um salto ainda maior do que deu nos últimos 50 anos”.

O executivo projeta um crescimento nesta década na ordem de 200 milhões de toneladas de grãos ao ano, chegando a quase 500 milhões de toneladas, e agregação de mais 100 milhões de cabeças de gado às atuais 210 milhões, com intensificação sustentável e sem necessidade de abrir novas áreas para a produção. “Todo esse crescimento pode ser feito em cima de 30 milhões de hectares, que vão sair daquelas áreas onde já criamos os bois hoje, de maneira extensiva, com a lotação de 1,4 animal por hectare a mais. A integração é a grande ferramenta que temos disponível no momento”.

Importância do cooperativismo na adoção de Sistemas de ILPF
Renato Watanabe, gerente executivo da Cocamar, participou do painel e mostrou como a cooperativa vem implementando ações para incentivar a adoção da integração lavoura-pecuária na região noroeste do Paraná. O tema sistemas integrados é discutido há 20 anos entre os cooperados, especialmente por causa das dificuldades enfrentadas pelos produtores com os solos frágeis e suscetíveis à erosão da chamada região do arenito, onde a adoção de tecnologias sustentáveis é uma necessidade.

Criada em 1963, em Maringá (PR), por 46 pequenos produtores de cafés da região, a Cocamar conta hoje com 15 mil associados, com tamanho médio de 50 hectares por propriedade, que produzem sobretudo soja, milho, trigo, café e laranja, em 3,2 milhões de hectares no noroeste do Paraná, no oeste paulista e no sudoeste do Mato Grosso do Sul.

Na década de 2010, a cooperativa implementou seu programa de integração da lavoura de soja com a pecuária, para incentivar a adoção e oferecer assistência técnica aos produtores da região, a partir de parcerias firmadas com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (Iapar) e a Embrapa.

“Acreditamos que a pastagem é a verdadeira vocação da região do arenito, mas se quisermos melhorar a produtividade, teremos que melhorar as condições das pastagens degradadas e da pecuária na região. Pensamos para os próximos anos em uma pecuária que produza acima de 30 arrobas por hectare/ano, com uma média de 45 sacos de soja em sistemas integrados”, revelou Watanabe, citando resultados já obtidos em algumas propriedades.

Para auxiliar os cooperados no âmbito do projeto, a Cocamar tem investido na capacitação de sua equipe técnica formada por 120 agrônomos, sendo que 30 já estão treinados para os projetos de integração lavoura-pecuária, além da realização de diversos eventos de transferência de tecnologia, que chegavam a atender 18 mil produtores ao ano antes da pandemia. Além de campanhas de incentivo e encorajamento dos produtores para a adução do sistema integrado com soja e pecuária, com a realização de concursos e prêmios de produtividade.

O evento
O WCCLF 2021 está sendo promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e abastecimento (Mapa), Embrapa, Associação Rede ILPF, Sistema Famasul e Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar do MS (Semagro). O congresso, que termina nesta quarta-feira (5/5), tem como principal objetivo propiciar um fórum de discussão, com aprofundamento teórico e aplicações práticas sobre aspectos tecnológicos e de sustentabilidade econômica e ambiental de sistemas agrícolas consorciados que combinem a produção integrada da lavoura, da pecuária e da floresta na mesma área e com uso eficiente de insumos.

 

Fonte: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/61192805/rede-projeta-35-milhoes-de-hectares-com-sistemas-de-ilpf-ate-2030