Estudo revela por que sistemas de Integração Lavoura-Pecuária emitem menos óxido nitroso – 30/08/2019

 

Pesquisa mostra como a lavoura integrada com pastagem reduz emissões de gás de efeito estufa

Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP) emitem menos óxido nitroso (N2O), um importante gás de efeito estufa (GEE), quando comparados a lavouras em sistema de plantio convencional. É o que constata um estudo conduzido na Embrapa Cerrados (DF) que também detalha como isso ocorre. A pesquisa destaca que o uso de gramíneas forrageiras, que aportam matéria orgânica e aprofundam raízes no perfil do solo, influencia esse processo, assim como a presença de maiores volumes de agregados do solo com maiores diâmetros.

Entre as explicações para esse resultado, os cientistas observaram que as braquiárias, forrageiras plantadas para alimentar o gado, depositam matéria orgânica mais difícil de ser degradada e, além disso, a ILP proporciona solos com agregados maiores. Com mais carbono e nitrogênio acumulados nessas partículas, a matéria orgânica presente é protegida da decomposição feita pela microbiota, os microrganismos que habitam o solo.

“A tecnologia permite, em uma mesma área, produzir mais e em menor tempo (no caso dos animais) e esses fatores reduzem a intensidade de emissões, ou seja, emitimos menos gases de efeito estufa por quilo de alimento produzido”, detalha o pesquisador da Embrapa Solos (RJ) Renato Rodrigues, que preside o conselho da Associação Rede ILPF. “A integração ainda promove redução proporcional do uso de nitrogênio em comparação aos sistemas solteiros e gera menos revolvimento da terra, o que reduz as emissões de óxido nitroso”, completa o especialista.

Pesquisas anteriores já haviam demonstrado que as emissões de N2O nos sistemas agrícolas são influenciadas por condições edafoclimáticas (solo, clima, vegetação, entre outras), e que a disponibilidade de matéria orgânica do solo (MOS) é um fator chave no processo. O estudo avança na compreensão de como se dá o acúmulo de frações de MOS estáveis e lábeis (menos estáveis) nos solos sob ILP e as possíveis relações com as emissões de N2O. As avaliações foram realizadas em 2015, na área do experimento de longa duração em ILP, iniciado em 1991 na Embrapa Cerrados – o mais antigo do Brasil – sob solo argiloso.

 

Estudo publicado
Os resultados são apresentados no artigo “Understanding the relations between soil organic matter fractions and N2O emissions in a long-term integrated crop-livestock system”, publicado no European Journal of Soil Science. O trabalho é de autoria de Juliana Sato, doutoranda pela Universidade de Brasília (UnB), Cícero de Figueiredo (UnB), Robélio Marchão, Alexsandra de Oliveira, Lourival Vilela, Francisco Delvico (Embrapa Cerrados), Bruno Alves (Embrapa Agrobiologia) e Arminda de Carvalho (Embrapa Cerrados).

 

Como foi a pesquisa
O experimento compreende uma área total de 14 hectares (ha). Com dimensões de cerca de um hectare, as parcelas compararam sistemas de lavoura contínua (cultivada em plantio direto e convencional) com sistema integrado de rotação lavoura-pecuária, tendo o capim Brachiaria brizantha BRS Piatã como planta de cobertura. Em todos os três sistemas agrícolas, a espécie forrageira foi introduzida em consórcio com sorgo safrinha cultivado após a soja, visando à comparação das áreas, que receberam o mesmo manejo. Os tratos culturais variaram apenas quanto ao preparo do solo na lavoura contínua sob preparo convencional e à presença dos animais em pastejo no sistema ILP.

“Realizamos esse estudo em um experimento que simula as condições de fazenda, com mecanização em todas as etapas, o que permitiu maior robustez dos dados”, explica o pesquisador da Embrapa Robélio Marchão, atualmente responsável pela área experimental.

 

Brasil e o compromisso com o clima
O pesquisador da Embrapa Renato Rodrigues lembra que o Brasil assumiu compromissos voluntários de mitigação de emissões junto à Organização das Nações Unidas (ONU), durante a Conferência de Mudança do Clima de 2009. “Esses compromissos foram traduzidos em uma grande estratégia de adoção de tecnologias sustentáveis (ou de baixa emissão de carbono). A partir dessa política, teve origem o Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC), que entre outras tecnologias, previa a implantação de quatro milhões de hectares de ILP/ILPF no Brasil entre 2010 e 2020”, diz.

Em 2015, o Brasil assumiu novos compromissos no Acordo de Paris, com a intenção de implantar mais 20 milhões de hectares de ILPF e recuperação de pastagens degradadas entre 2021 e 2030.

 

Os cientistas quantificaram as emissões cumulativas de N2O por 146 dias ao longo do ciclo da cultura do sorgo. Uma área remanescente de Cerrado também foi avaliada como referência. As emissões acumuladas foram maiores no início do ciclo da cultura, em função da fertilização nitrogenada associada à ocorrência de chuvas, com precipitações diárias superiores a 40 mm. “Além disso, a ocorrência de veranicos (períodos sem chuva) na estação chuvosa no Cerrado promove condições de secagem e reumedecimento do solo, o que funciona como uma fonte importante para emissão de N2O em diferentes momentos da estação de crescimento dos cultivos”, explica a pesquisadora Alexsandra de Oliveira.

As maiores emissões acumuladas ao fim dos 146 dias foram observadas na área com lavoura em plantio convencional, com 1,8 kg/ha de N2O, enquanto as emissões da lavoura contínua sob plantio direto representaram metade dessa emissão (0,9 kg/ha). Dentre as áreas cultivadas, o sistema ILP foi o que apresentou as menores emissões acumuladas de N2O, com 0,79 kg/ha. Na área de Cerrado, considerada a referência positiva do estudo e onde as emissões diárias estão sempre próximas de zero, a emissão acumulada do período representou apenas 11% da emissão da lavoura em plantio convencional, considerada a referência negativa.

“A decomposição de resíduos da lavoura durante a sucessão de culturas na primeira e na segunda safras (soja e sorgo) e a presença de uma gramínea forrageira com e sem pastejo nos dois sistemas em plantio direto explicam as diferenças nos fluxos de N2O nos diferentes sistemas de manejo analisados”, relata a pesquisadora Arminda de Carvalho.

“As gramíneas forrageiras tropicais, sobretudo as braquiárias, quando encontram solos de fertilidade construída, como é o caso desse estudo, conseguem expressar todo o potencial de desenvolvimento do seu sistema radicular, que tem um importante efeito físico no solo, protegendo a MOS”, completa Marchão.

Cultivo convencional aumentou emissões

A pesquisa também analisou as frações de carbono do solo lábeis e estáveis em duas classes de agregados de solo – os macroagregados, com mais de 0,250 mm de diâmetro, e os microagregados, com menos de 0,250 mm de diâmetro. Nos macroagregados, foram encontradas as maiores proporções de MOS estável.

Os pesquisadores constataram que o cultivo convencional com revolvimento do solo reduziu todas as frações de carbono do solo, diminuiu a proteção física da matéria orgânica e o índice de humificação (formação de húmus) da MOS e, consequentemente, aumentou as emissões de N2O para a atmosfera.

Já o sistema ILP resultou no maior incremento em carbono do solo nas frações mais estáveis de MOS. Para os responsáveis pelo estudo, isso confirma a hipótese de que o acúmulo de carbono e nitrogênio nas frações mais estáveis de MOS, ao oferecer proteção física e química contra a ação de decomposição pela microbiota do solo, resulta em menores emissões de N2O.

“No sistema ILP, a MOS depositada pelas braquiárias é mais estável e mais difícil de ser degradada”, esclarece Marchão. Assim, os pesquisadores constaram que a compreensão do papel das frações de MOS é fundamental na busca pela mitigação dos gases de efeito estufa e na adaptação dos sistemas agrícolas às mudanças climáticas.

Os cientistas concluíram, ainda, que a agregação é um atributo chave que se correlaciona com os fluxos de N2O dos solos. Eles observaram que sistemas conservacionistas como ILP em plantio direto obtiveram maior diâmetro médio de agregados do solo entre os agroecossistemas analisados. Também constataram que a difusividade do oxigênio no perfil do solo, possibilitada pela formação de agregados, resultou na diminuição da emissão de N2O, o que também explica as menores emissões no sistema ILP.

Para os autores do estudo, os resultados mostram que os sistemas integrados apresentam potencialmente um balanço de carbono positivo, o que torna possível recomendá-los para a intensificação sustentável como alternativa para a mitigação e adaptação das mudanças climáticas.

 

Sistemas de integração e o N2O
Os sistemas de integração baseados na rotação pastagem-lavoura associada ao Sistema Plantio Direto têm sido importantes na intensificação sustentável do uso da terra no Brasil. Eles são mais eficientes na reciclagem de nutrientes, melhorando a qualidade do solo e aumentando a sua biodiversidade. Além disso, como já comprovado pela pesquisa, promovem sequestro de carbono, contribuindo para a mitigação das emissões de GEE.

As menores emissões de óxido nitroso por esses sistemas podem ser explicadas pela capacidade das raízes dos capins braquiárias de liberarem inibidores biológicos de nitrificação, que bloqueiam as rotas enzimáticas das bactérias do gênero Nitrossomonas, responsáveis pela oxidação da amônia, transformando-a em nitrito. O nitrito sofre nitrificação pelas bactérias Nitrobacter, tornando-se nitrato. O nitrato é então reduzido a gases de nitrogênio, entre eles o N2O, na desnitrificação promovida por bactérias heterotróficas.

Nas áreas com ILP, há uma maior mobilização de nitrogênio pelas pastagens na entressafra de grãos, o que reduz a disponibilidade desse elemento químico para a biomassa microbiana responsável pelos processos de nitrificação e desnitrificação.

Apesar de estar presente em proporções bem menores que o gás carbônico (CO2), o N2O possui capacidade cerca de 300 vezes maior que a do CO2 de reter calor na atmosfera. Além disso, pode absorver calor em lugares nos quais o CO2preferencialmente não absorve, permanecendo por mais de 100 anos na atmosfera até ser degradado naturalmente.

O Brasil é considerado o principal emissor de N2O da América Latina. As emissões do gás são influenciadas por uma série de fatores, como: manejo; elevada quantidade de água dos solos, que reduz a aeração e promove a anaerobiose; acidez do solo; o uso de fertilizantes nitrogenados; o plantio convencional, que interfere na aeração, na decomposição dos resíduos vegetais e na flora; e os excrementos de animais, que são fontes de nitrogênio e de carbono orgânico, que favorecem a atividade microbiana.

 

Foto: Robélio Marchão

Breno Lobato (MTb 9417/MG) 
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Congresso mostra a ILPF como estratégia para construção de fertilidade do solo – 29/08/2019

 

Simpósio sobre ILPF no Congresso Brasileiro de Ciência do Solo 

O uso de diferentes estratégias de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) na recuperação da fertilidade de solos com baixa fertilidade foi um dos temas abordados durante o XXXVII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, realizado de 21 a 26 de julho em Cuiabá (MT). O tema foi apresentado e discutido em um simpósio na quarta-feira, dia 24, e também foi visto na prática em uma visita técnica a duas propriedades rurais na sexta-feira, dia 26.

Com o tema “ILPF como estratégia de intensificação sustentável do uso do solo”, o simpósio mostrou diferentes resultados de pesquisas e de experiências de produtores em que a ILP foi usada na recuperação de pastagens degradas.

Utilizando dados do Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o pesquisador da Embrapa Cerrados Lourival Vilela mostrou que, entre 2006 e 2017, houve um aumento em 18% da área com pastagens degradadas no Brasil, chegando a 11,7 milhões de hectares. Estima-se em 100 milhões de hectares a área com pastagens no país.

De acordo com o pesquisador, como estes dados são feito a partir da autodeclaração dos entrevistados, é provável que o número seja ainda maior. Prova disso é que, ainda de acordo com o Censo Agropecuário, 82% das pastagens do país possuem taxa de lotação abaixo de 0,8 unidade animal por hectare. O número é bem abaixo da possibilidade de produção, caso as pastagens sejam bem manejadas.

“Se subirmos a média para 2 ua/ha, serão liberados 74,7 milhões de hectares para a agricultura”, calcula o pesquisador, mostrando que é possível mais que dobrar a produção agrícola sem a necessidade de abertura de novas áreas.

Para que possa haver esse ganho de produtividade, uma das melhores alternativas disponíveis para os produtores é a integração da pecuária com a lavoura. Além de custear as despesas com a recuperação do pasto e permitir o uso mais eficiente dos recursos, o consórcio traz benefícios para o solo.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja Osmar Conte, a ILP promove a diversificação das culturas, recupera as propriedades químicas do solo, melhora a cobertura, possibilita maior crescimento de raízes, aumenta a porosidade e o teor de matéria orgânica do solo. Com isso gera um ambiente mais diverso e propício para o desenvolvimento das plantas.

Entre os benefícios da ILP, Osmar destaca a maior capacidade de aprofundamento de raízes, o que permite às plantas buscar nutrientes e água em camadas mais profundas. Assim elas resistem melhor aos períodos de veranicos.

“A soja aprofunda mais as raízes quando plantada após a braquiária ruziziensis. Dobrando a profundidade das raízes, você dobra o número de dias de atendimento pleno de água para a planta”, explica.

Matéria orgânica

De acordo com o pesquisador, o incremento de 1% no teor de matéria orgânica no solo representa aumento na produção de 12 a 15 sacas de soja. Nesse sentido, o uso das forrageiras é o maior aliado do produtor, sobretudo pelo incremento gerado pelas raízes. Osmar explica que, conforme pesquisas realizadas na Embrapa Soja, 30% do ganho de produtividade devem-se à palha gerada pela forrageira e os 70% restantes às raízes.

Exemplo do que foi apresentado no simpósio pôde ser visto pelos participantes do congresso que estiveram no tour técnico de ILPF. Um grupo formado por cerca de 70 pessoas visitou duas fazendas que usam diferentes estratégias da tecnologia.

Em uma delas, no munício de Poconé (MT), no bioma Pantanal, era um exemplo de pastagem degradada. Com o uso da lavoura de soja, o produtor Raul Santos Costa Neto viu a produtividade da fazenda Lagoa Dourada dar um salto. Na primeira safra, em 2012/2013, colheu em média 42 sacas de soja. Cinco anos depois, colheu 72 sacas em média em 1.500 ha de lavouras. Além disso, foi, pelo segundo ano seguido, ganhador em Mato Grosso do prêmio de máxima produtividade de soja do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), chegando a 100 sacas/ha em um de seus talhões.

De acordo com o produtor, graças à ILP, pôde aumentar o teor de matéria orgânica média em seu solo de 1,5% para 3%. Em alguns pontos o índice ultrapassa os 5%.

Ampliação da área com ILPF

Além de permitir o aumento da produtividade de grãos e da pecuária, a ILPF é uma tecnologia mais eficiente no balanço de emissões de gases causadores do efeito estufa. Pastagens recuperadas, plantio direto na palha e o plantio de árvores são técnicas que ajudam a mitigar as emissões.

Por esse motivo políticas públicas como o Plano Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) preveem o aumento da área com adoção de ILPF no Brasil em 5 milhões de hectares até 2030. Somando-se aos 15 milhões da meta de pastagens a serem recuperadas, são 20 milhões de hectares.

Para contribuir com esse resultado, a Associação Rede ILPF, uma parceria público privada formada pela Embrapa e instituições da iniciativa privada tem como meta ampliar a área com ILPF no Brasil dos atuais 15 milhões de ha para 35 milhões até 2030.

Para isso, explica o presidente do Conselho Gestor da Rede ILPF e pesquisador da Embrapa, Renato Rodrigues, a Associação está, entre outras ações, trabalhando no desenvolvimento de uma certificação de propriedades e de produtos gerados a partir da ILPF. O intuito, explica, é criar mercados diferenciados para a produção feita por meio da intensificação sustentável.

Já pensando nesse potencial mercado, produtores como Arno Schneider, da Estância Ana Sophia, em Santo Antônio do Leverger (MT), estão apostando no uso de árvores em ILPF. Atualmente ele já possui 140 hectares de ILPF com uso da teca. A maior parte é em sistema silvipastoril. Em algumas novas áreas está cultivando mandioca entre as linhas até que as árvores tenham tamanho suficiente para não serem prejudicadas pelo gado.

A experiência do produtor rural, que é referência no estado, também foi visitada durante o tour técnico do Congresso Brasileiro de Ciência do Solo. O local também já recebeu dias de campo promovidos pela Embrapa Agrossilvipastoril e é usado frequentemente em aulas práticas de cursos superiores de agronomia e engenharia florestal.

 

Foto: Gabriel Faria
 
Gabriel Faria (mtb 15.624 MG) 
Embrapa Agrossilvipastoril 

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Sistema de plantio direto na lavoura de mandioca é mais sustentável e rentável – 16/07/2019

Pesquisa mostra que o plantio direto, feito sobre a palhada da cultura anterior, é capaz de aumentar produtividade da mandioca em até 50%, além de elevar a qualidade do solo. Também chamado de plantio mínimo ou plantio reduzido, o sistema de plantio direto (SPD) é utilizado em grandes culturas de grãos, como milho, soja e trigo.

No Centro-Sul do Brasil, região de grande importância na produção brasileira de mandioca e que concentra 80% das indústrias brasileiras produtoras de fécula, o SPD tem sido testado com sucesso na cultura. Conhecida pela sua versatilidade e rusticidade, a mandioca também tem como característica esgotar rapidamente o solo quando não bem manejado, por isso, o SPD foi testado como alternativa para resolver o problema.

O trabalho foi desenvolvido por equipes da Embrapa, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), que observaram que a adoção de sistemas conservacionistas de produção poderia trazer vários benefícios para toda a cadeia produtiva, desde a redução de cerca de 90% das perdas de solo, diminuição de custos de preparo da área até a melhoria da qualidade do solo e da produtividade.

Entre os resultados alcançados, foi lançada uma variedade adequada ao plantio direto, a BRS CS01, que está em franca expansão na região, e outra cultivar está prestes a ser introduzida no mercado.

O plantio direto com mandioca
Basicamente, o plantio direto é um sistema que envolve o não revolvimento do solo, como acontece no sistema convencional. Ou seja, a implantação da cultura é realizada diretamente sobre uma palhada dessecada. “Não revolvendo o solo, existe maior preservação da matéria orgânica, diminui-se o risco de erosão, têm-se custos menores e a cultura fica em um ambiente melhor, com temperatura mais amena e maior manutenção da umidade”, explica o pesquisador Marco Rangel, lotado no campo avançado da Embrapa Mandioca e Fruticultura na Embrapa Soja, em Londrina (PR). O cientista frisa que essas vantagens têm potencial para agregar valor aos produtos processados, uma vez que os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à sustentabilidade do meio ambiente.

O desafio da adaptação
A ideia de adaptar o SPD à cultura surgiu porque a maior parte da mandioca do Centro-Sul está plantada sobre um solo de arenito, bastante suscetível à erosão. “O que se faz comumente aqui é ‘tombar’ a pastagem e fazer várias operações de preparação do solo, de modo que ele fica muito mais sujeito à erosão, o que não podemos aceitar mais. A mandioca entrou na região para promover a reforma da pastagem”, destaca Rangel.

O solo chamado Arenito do Oeste é ainda mais suscetível à erosão por causa da falta de estrutura e da chuva comum na região, salienta o engenheiro-agrônomo Emerson Fey, professor da Unioeste no campus de Marechal Cândido Rondon e parceiro de das pesquisas da Embrapa no Centro-Sul. “A grande vantagem do plantio direto é a proteção do solo. O impacto da gota de chuva é menor e não se perde água”, explica.

Segundo Rangel, nas regiões onde existe rotação de culturas anuais foi mais fácil adaptar o plantio direto. “Isso aconteceu porque já existia um preparo anterior do solo. Porém, nas regiões de pastagem, com o solo já empobrecido, tivemos de ajustar o sistema para que a mandioca viesse a produzir da mesma forma que no convencional. Com os parceiros, desenvolvemos as variedades e uma máquina plantadora e chegamos a um conjunto de fatores que tornou possível o uso do plantio direto”, informa o pesquisador da Embrapa.Nos preparos conservacionistas mantém-se pelo menos 30% do solo coberto com palha após o plantio utilizando equipamentos como escarificadores ou subsoladores que rompem o solo sem inverter as camadas, como ocorre com os arados de aivecas, de discos e grades.

 “Normalmente, o produtor já usa a plantadora específica para mandioca, que deposita as manivas no sulco de plantio em condições adequadas para a brotação e o desenvolvimento das plantas. Com algumas adaptações nessa plantadora, com o sulcador e o disco para cortar a palhada, o plantio direto já fica viabilizado. Conforme a escala, o produtor também pode fazer manualmente”, assegura o pesquisador.

Estudo pioneiro
Experiente no sistema de plantio direto para soja e milho, Fey inovou ao apresentar, em 2010, sua tese de doutorado na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) sobre o tema “Aperfeiçoamento de um mecanismo sulcador para plantio direto de mandioca”, em que desenvolveu uma haste sulcadora com pequeno número de componentes, com processo de fabricação simples, de baixo custo e com bom funcionamento. “A produtividade obtida com a cultura da mandioca em preparo convencional e em Sistema Plantio Direto foi semelhante, evidenciando que essa técnica pode ser utilizada para o cultivo sem comprometer a produtividade e ainda melhorando a sustentabilidade”, afirma o agrônomo.

Cuidados e adaptações do plantio direto
A depender do tipo de palha, da região e do clima, fazem-se alguns ajustes. “Logicamente, é preciso um certo tempo para se ganhar estabilidade, verificar a dinâmica de nutrientes, a resposta das raízes etc. A produtividade não vai aumentar no primeiro ano e o produtor tem de estar ciente que podem ser necessárias adaptações. O excesso de palhada de braquiária na linha de plantio, por exemplo, pode atrapalhar o início da produção. A solução seria, então, remover um pouco dessa palhada”, detalha.

Em áreas em que já é feita rotação de culturas, pode-se usar palhada de qualquer cultura: milho, soja, aveia preta ou trigo. “Já está praticamente concluído o desenvolvimento do plantio direto sobre pastagens, que também são bastante extensas na região noroeste do Paraná”, informa Rangel. A apropriação do SPD na Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é considerada uma boa oportunidade pelo pesquisador.

O cientista alerta para alguns cuidados prévios antes de aderir ao SPD. “O produtor tem de estar preparado para enfrentar esse ambiente diferente, principalmente com relação ao solo. As partes física e química desse solo devem estar bem adequadas”, recomenda Rangel alertando para a importância do uso de uma plantadora adaptada e de variedades adequadas, uma vez que nem todas se adaptam bem ao plantio direto.  “O programa de melhoramento genético da mandioca da Embrapa trabalha fortemente para identificar genótipos que tenham comportamento superior e, ao mesmo tempo, estável dentro desse sistema.  “Acreditamos que esse sistema possa trazer benefícios a toda a mandiocultura”, aposta o cientista.

Condições e locais 
No Centro-Sul do País, o cultivo de mandioca em plantio direto pode ser feito desde metade de maio até o fim de agosto nos locais onde a temperatura média é mais alta, e de agosto até outubro, quando é mais baixa. Em relação à estabilidade térmica do solo, experimentos demonstraram que, com o SPD, a regulação média de frio vai de 17,6o C para 18,3o C e quente, de 38,5o C a 30,3o C, considerada bastante positiva para a mandioca, uma vez que reduz a amplitude térmica.

O que dizem os produtores

Sigmar Herpich, da Associação Técnica das Indústrias de Mandioca (Atimop), é um dos entusiastas do sistema. “Nós já temos o plantio direto para outras culturas principais aqui na nossa região, como soja e milho. Sobre a palhada do milho safrinha, principalmente, aveia ou trigo se faz o plantio direto de mandioca, que tem várias vantagens em relação ao convencional, especialmente na conservação de solo. A variedade BRS CS01 se apresentou muito eficaz nesse sistema de plantio. Isso é muito gratificante para os agricultores e, consequentemente, para nós que representamos a indústria”, frisa.

Victor Vendramin, de Paranavaí (PR), é um dos produtores parceiros das pesquisas desde 2016. “A primeira diferença, vista de imediato, é a conservação da umidade pela cobertura de palha. Nós estamos desenvolvendo esse plantio direto em palhada de pastagem, no caso, Braquiária brizantha, basicamente com o solo do preparo convencional, no qual a terra é revolvida”, explica.

Segundo o produtor, no sistema convencional, mesmo que a chuva aconteça depois de ter mexido no solo, a umidade dura por cerca de sete dias em média, ficando apta para plantio de cinco a sete dias. Em plantio direto, com a cobertura da palha, essa umidade dura de 20 a 30 dias. Por isso, há um aumento de, pelo menos, três vezes no tempo para realizar o plantio.

Além do aumento da janela de plantio, Vendramin salienta a conservação de carbono no solo. “Evitando revolver o solo, você tem conservação de carbono, que é bem difícil de constituir, e a agregação das partículas de solo, porque em solo arenoso é muito difícil ter essa melhoria. O plantio direto deixa o solo mais fofo, mais agregado e com maior teor de matéria orgânica”, relata.

O produtor conta que não houve uma diminuição da produtividade com a adoção do sistema e que espera essa melhoria com o uso das variedades da Embrapa. “Acredito que, quando essas variedades contarem com quantidade de manivas suficientes para escala comercial, a preocupação em relação à produtividade será sanada”, salienta.

Ao deixar de investir em mais operações de preparo de solo, o produtor notou redução de custos, o que deve se refletir em lucro maior. “O custo do óleo diesel, das máquinas e do operador diminuiu, assim como a depreciação e manutenção dos equipamentos. Se tiver equipamento próprio, a economia é de R$ 1.752,20/alqueire, mas se o serviço for terceirizado, o valor fica em R$ 2.350,00/alqueire”, informa.

 

Foto: Ildos Parizotto

Léa Cunha (MTb 1633/BA) 
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Embrapa lança e-book gratuito no Congresso Brasileiro de Ciência do Solo – 23/07/2019

 

A Embrapa está lançando durante o Congresso Brasileiro de Ciência do Solo (CBCS), que acontece nesta semana em Cuiabá (MT), entre os dias 21 e 26 de julho, a publicação ‘Pesquisas coligadas da IX Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos (RCC)’, disponível para download gratuito no formato Epub. O livro reúne os conteúdos complementares dos trabalhos de campo da IX RCC, realizados no Acre em 2010. A primeira parte do conteúdo havia sido publicado no Guia de Campo, em 2013.

“O Acre possui solos com características próprias, diferentes até de outras terras da Amazônia, com alta atividade de argila, por exemplo”, ressalta José Francisco Lumbreras, pesquisador da Embrapa Solos e um dos cinco editores da publicação, fruto do trabalho conjunto de 33 autores de diferentes instituições de pesquisas do País. Lumbreras apresenta o livro durante o lançamento oficial no CBCS, nesta terça-feira (23/7), a partir das 17 horas.  

A IX RCC contou com a presença de 71 participantes de 36 instituições das cinco regiões do Brasil, com a organização da Embrapa Acre e da Secretaria do Meio Ambiente do estado. Os estudos tiveram o objetivo de alavancar o conhecimento técnico-científico sobre os solos sedimentares da Bacia do Acre, que sofreram mudanças em sua formação pelo surgimento da Cordilheira dos Andes. O conhecimento levantado em campo e interpretado pelas equipes envolvidas foi incorporado na última edição do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, atualizado em 2018.

Solos arenosos
A Embrapa Solos também acaba de publicar o Epub ‘Anais do III Simpósio Brasileiro de Solos Arenosos – Intensificação  agropecuária sustentável em solos arenosos’, disponível para download gratuito e que reúne os trabalhos apresentados durante o evento realizado em maio, em Campo Grande (MS). O conteúdo vem ao encontro da temática central do Congresso Brasileiro de Ciência do Solo deste ano, que é a “Intensificação sustentável em sistemas de produção”. O evento está promovendo uma ampla discussão sobre o papel das práticas de manejo do solo com o objetivo de assegurar a sustentabilidade da produção agrícola, principalmente em solos arenosos e de baixa fertilidade, que compõem a maior parte das áreas em produção no Centro-Oeste e novas fronteiras agrícolas como a do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e a do SEALBA (Sergipe, Alagoas e Bahia).

De um tempo para cá, os solos arenosos, antes considerados solos marginais na agricultura, vêm sendo cultivados em diferentes regiões do País, principalmente em partes do Paraná, Centro-Oeste e Nordeste. “A pesquisa desenvolveu tecnologias que viabilizam o cultivo dessa terra, que é de alto risco, por causa da sua baixa retenção de água e de nutrientes. Entre essas tecnologias destaco a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e o cultivo de gramíneas em sucessão com o cultivo de grãos. Isso tem viabilizado muitas áreas no País”, diz o pesquisador da Embrapa Solos Wenceslau Teixeira, um dos editores dos Anais do III Simpósio Brasileiro de Solos Arenosos, ao lado do também pesquisador Guilherme Donagemma.

“Essas tecnologias [para intensificação sustentável em sistemas de produção] não repercutem só no Brasil, muitos países da África e Ásia têm problemas com solos arenosos. Então, se conseguirmos avançar no manejo dos solos arenosos, teremos um impacto mundial”, completa Wenceslau.

Outras publicações de destaque
A Embrapa Solos criou uma página para destacar essas e outras publicações disponíveis para download gratuito, em formato Epub e PDF – acesse aqui.

Três das mais recentes, além desses últimos lançamentos, são a 5ª edição do ‘Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS)’, a 3ª edição do ‘Manual de Métodos e Análise de Solo’ e o livro de perguntas e repostas ‘Solos para Todos’.

Referência para pesquisadores, técnicos agrícolas, estudantes e produtores desde 1997, o SiBCS ganhou uma inédita versão em inglês. A quinta edição traz ajustes e correções de conceitos básicos relativos a definição de solo, caracteres e horizontes diagnósticos, bem como alterações de redação, redefinição da seção de controle, eliminação ou incorporação de classes de solos em todos os níveis categóricos.

A terceira edição do ‘Manual de Métodos de Análise de Solo’ marca uma extensa atualização e ampliação da obra, contemplando não somente a revisão e atualização das metodologias já constantes das edições anteriores, como também a inclusão de novas metodologias, ampliando o seu escopo de utilização. O manual divide as metodologias de análises do solo em cinco áreas de interesse para os laboratórios: análises físicas; químicas; matéria orgânica; mineralogia e micromorfologia.

Já a nova edição do ‘Solos para Todos’ traz 271 perguntas e respostas sobre estudo do solo, fertilidade do solo e nutrição de plantas, compostagem e análises de solo e água. São respostas, redigidas em linguagem didática, para questionamentos do público acadêmico, de pequenos produtores rurais, de associações de produtores, de extensionistas rurais e da sociedade em geral recebidos ao longo dos anos pelo SAC Embrapa.

 

Acesse os links abaixo para baixar as publicações em destaque:
– Sistema Brasileiro de Classificação de Solos – 5ª edição (disponível também na versão PDF)
– Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (versão em inglês) – (disponível também na versão PDF)
– Manual de Métodos de Análise de Solo – 3ª edição (disponível também na versão PDF)
– Solos para Todos – perguntas e respostas – (disponível também na versão PDF)
– Anais do III Simpósio Brasileiro de Solos Arenosos – Intensificação  agropecuária sustentável em solos arenosos – (disponível também na versão PDF)
– Pesquisas coligadas da IX Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos (RCC) – (disponível também na versão PDF)
   >> Conheça também a página temática Solos Brasileiros

 

Dicas: softwares para ler Epub

Algumas das publicações da Embrapa estão disponíveis apenas em formato Epub. Para abrir esses arquivos é necessário ter, no celular ou no computador, um destes softwares gratuitos:

Celulares Android: alguns dispositivos já vêm com o Google Play Livros, mas para ler melhor nossas publicações recomendamos o Reasily;

Celulares e computadores da Apple: iBooks;

Windows e Linux: Calibre.

 

Fernando Gregio 
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Carlos Dias 
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Artigo – Tecnologia brasileira e supersafra de milho – 26/07/2019

Rubens Miranda, Frederico Durães, João Carlos Garcia, Sidney Parentoni, Derli Prudente Santana, Antônio Álvaro Purcino e Eliseu Alves

Pesquisadores da Embrapa

 

Até os anos 1980 considerava-se difícil o Brasil atingir o patamar de 60 milhões de toneladas de milho por ano. Entretanto, acréscimos de produtividade, nos quais a tecnologia teve a mais alta relevância, foram fundamentais para se atingir o atual patamar histórico de aproximadamente 100 milhões de toneladas, o que consolida o Brasil como o terceiro maior produtor mundial e o segundo maior exportador desse cereal. Nesse período, a produção de milho no país passou por significantes avanços e adaptações.

O primeiro fator a ser ressaltado é que a produção mudou a época de plantio. Em 2008/2009, 66% da produção foi colhida na primeira safra — plantada no início da estação chuvosa, em setembro/outubro —, enquanto a segunda safra — plantada após a colheita da soja, em janeiro — respondeu por 34%. Esses percentuais se inverteram em 2018/2019, com o milho sucedendo a soja e respondendo por mais de 70% da produção.

A segunda safra ou “safrinha”, viabilizada com o advento de cultivares de soja precoce, possibilitou uma melhor inserção do milho numa segunda época de plantio, mudando o foco de monocultivo para sistemas rotacionados ou em sucessão de produção. O sistema de produção soja/milho, além da adequação de cultivares, exigiu ajustes no espaçamento, densidade de plantio, uso adequado de nutrientes e corretivos e no manejo integrado de insetos e plantas invasoras. Como grande vantagem, esses sistemas permitem a exploração de até três culturas numa mesma área, num mesmo ano.

A produção também mudou espacialmente. Há 10 anos as regiões Sudeste e Sul respondiam por 58% da produção, enquanto, hoje, somente o Centro-Oeste colhe 53% do milho no Brasil, e Mato Grosso passou a ser o maior produtor de milho no país. Em consequência das mudanças nas regiões de plantio, ocorreram também mudanças no tamanho das lavouras, que apresentaram aumentos sem precedentes nos últimos anos. O resultado prático desse processo de aumento do tamanho das lavouras foi favorecer a adoção de tecnologias vinculadas à mecanização.

As tecnologias de sementes também apresentaram mudanças que beneficiaram o aumento da produção de milho no Brasil. Uma dessas mudanças foi a liberação para plantio comercial de sementes geneticamente modificadas (OGM) de milho para controle de insetos (Bt) e de plantas invasoras (RR). Essas sementes OGMs foram liberadas para plantio comercial em 2007, e na safra 2009/2010 foram cultivadas em 37% da área plantada com milho. A adoção das cultivares OGMs foi muito rápida e hoje perfazem aproximadamente 84% do mercado de sementes de milho.

Entre 2009/2010 e 2017/2018, a tecnologia Bt no milho proporcionou um aumento considerável na produção de grãos ao longo dos anos. As estimativas dos ganhos de produtividade por hectare, segundo estudos recentes, variaram entre 12 e 13,7 sacas por hectare no milho verão, e entre 4,9 e 7,7 sacas por hectare no milho de segunda safra. Tais ganhos foram oriundos de um manejo mais eficiente no controle de insetos, proporcionado pela tecnologia, e não por um maior potencial produtivo das cultivares ou do aumento no uso dos insumos.

A genética e o acréscimo da taxa de adoção de sementes certificadas também foram relevantes para o aumento da produtividade do grão no país. Segundo a Associação Paulista de Produtores de Sementes e Mudas, na safra 2018/2019, foram comercializados 19,7 milhões de sacos de semente para uma área plantada de 17,2 milhões de hectares (Conab). Esse quadro dá um indicativo de que a quantidade de sementes salvas e piratas no mercado reduziu substancialmente sua participação no mercado e também que muitos produtores passaram a realizar plantios com uso mais intensivo de sementes (utilizando mais do que um saco padrão de 60.000 sementes/hectare).

Em termos de genética, novamente segundo dados da APPS, na safra 2008/2009, os híbridos simples responderam por 62% do mercado de sementes comercializadas, enquanto esse percentual aumentou para 82,6% na safra 2018/2019. Ou seja, ocorreu uma melhora qualitativa da genética das sementes de milho comercializadas.

A despeito da relevância, as tecnologias de sementes não explicam todo o ganho de produtividade das lavouras brasileiras de milho na última década. Existem ganhos na adoção de tecnologias/conhecimentos de manejo e sistemas de produção que também foram fundamentais. A difusão do Plantio Direto e os Sistemas Integrados de Plantio (ILP ou ILPF) são bons exemplos. Sistemas integrados são mais sustentáveis e facilitam a recuperação de pastagens degradadas, o que permite acréscimos nas áreas de cultivo com lavouras e pastagens sem a necessidade de expansão de novas áreas de floresta ou cerrado.

O milho é uma importante matéria-prima com centenas de aplicações industriais e é um componente primordial na fabricação de ração animal, base da produção de leite, ovos, carne de suínos e aves. Mais recentemente, a produção de etanol de milho passou a agregar maior valor a esse cereal, e pode aumentar a sustentabilidade dessa lavoura em várias regiões brasileiras.

O conhecimento, novas tecnologias, políticas públicas e empreendedorismo permitirão ao Brasil produzir sistematicamente mais de 100 milhões de toneladas de milho, promover a segurança alimentar dos brasileiros e consolidar o Brasil como um grande celeiro mundial, contribuindo para o bem-estar dos 9 bilhões de seres humanos que habitarão nosso planeta em 2050. Esses nove bilhões de consumidores comparecerão ao mercado como compradores, no Brasil, na Ásia, na Europa, na América e, enfim, no mundo inteiro, gerando poderosa alavanca que garante que quem produz sempre terá para quem vender, remunerando, assim, o trabalho realizado e os insumos gastos na produção.
 

Foto: Eduardo Henrique Oliveira
Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (SIRE) 

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Transferência de Tecnologia Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é destaque na Expoacre – 25/07/19

Na 46ª edição da Exposição Agropecuária do Acre (Expoacre), realizada de 27 de julho a 4 de agosto de 2019, o tema principal da participação da Embrapa é a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) no Estado. Além de tecnologias para essa alternativa de produção sustentável, a empresa apresenta as ações de controle e defesa sanitária com foco na prevenção da monilíase, doença quarentenária ausente do Brasil e já identificada na fronteira do Acre com a Bolívia. A solenidade de abertura da Feira acontece no próximo sábado, no Parque de Exposição Wildy Viana, a partir das 8 horas.

No estande localizado no espaço batizado de “Caminhos do Agronegócio”, que abriga instituições de pesquisa, fomento e apoio à produção, os visitantes também poderão conhecer variedades de feijões produzidas na região do Juruá e obter informações sobre a farinha de Cruzeiro do Sul, primeiro derivado da mandioca com selo de Indicação Geográfica no Brasil, por meio de uma exposição fotográfica que mostra as diferentes etapas do processo de produção. Além disso, o público poderá adquirir publicações técnicas sobre temas relevantes para a região, incluindo o livro “Recuperação de pastagens degradadas na Amazônia”, lançado no final de junho, que será vendido ao preço de 45 reais e poderá ser autografado pelo pesquisador Carlos Maurício de Andrade, um dos autores da obra.

O espaço “Caminhos do Agronegócio” é gerenciado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema). O espaço reúne tecnologias para os setores agropecuário e industrial e alternativas tecnológicas para o fortalecimento da gestão ambiental, eventos técnicos como cursos e oficinas e oportunidades de negócios, entre outras atividades.

 

Palestras

A Embrapa também participa de ciclo de palestras sobre temas estratégicos para o setor produtivo acreano, realizado entre 29 de julho e 2 de agosto, no Galpão do Governo na Feira, como parte da programação do evento. No dia 1º de agosto (quinta-feira), profissionais da área de pesquisa abordarão a integração Lavoura-Pecuária-Floresta no contexto acreano. O pesquisador Tadário Kamel destacará experiências de uso desses sistemas, com ênfase nas vantagens proporcionadas como a produção de grãos e madeira para diferentes finalidades, incluindo a adubação de pastagens, alimentação animal e adequação ambiental de áreas rurais, e a obtenção de sombreamento e conforto térmico para o gado, entre outros serviços.

“Os sistemas integrados representam uma alternativa para diversificar a produção e a geração de renda na propriedade rural. Há uma tendência de crescimento do uso dessa forma de produzir nas diferentes regiões do país e a pesquisa científica tem atuado para disponibilizar conhecimentos e tecnologias para adoção de distintas modalidades de produção integrada. No Acre, devido à proximidade com a realidade dos produtores locais, em sua maioria de base familiar, a integração Lavoura-Pecuária envolvendo o cultivo de milho tem sido o modelo mais utilizado”, explica Kamel.

Os impactos do uso da ILP na recuperação de áreas degradadas será tema da palestra do pesquisador Idésio Franke, que destacará como esses sistemas podem ajudar o produtor acreano a incrementar a produtividade de lavouras anuais, especialmente de grãos, e dos rebanhos, sem a necessidade de abertura de novas áreas. “Por serem implementados em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, estes sistemas permitem produzir de forma contínua, tanto na agricultura como na pecuária, com melhor aproveitamento da terra e mais renda para as famílias. A adubação residual da lavoura possibilita recuperar a fertilidade do solo e melhorar as condições das pastagens. Além disso, os grãos produzidos podem ser utilizados na suplementação da dieta alimentar do rebanho, em época de seca, aspecto que garante a produção de leite e carne nesse período”, enfatiza.

 

ILPF em realidade virtual

Uma novidade tecnológica permitirá ao público da Expoacre vivenciar a tecnologia ILPF por meio de realidade virtual. Instalado no estande da Embrapa, o túnel de realidade aumentada possibilita conhecer as diversas etapas da integração Lavoura-Pecuária-Floresta e seus benefícios, por meio de uma experiência em realidade virtual. Os óculos de realidade virtual permitem ao visitante observar o processo de transformação de uma área degradada em produtiva e sustentável, acompanhando desde a correção do solo para implantação de cultivos agrícolas, até entrada do gado em uma pastagem reformada e o plantio de árvores.

Em cada etapa, demonstrada por meio de painéis, é possível perceber os benefícios da ILPF como o aprofundamento de raízes, descompactação do solo, ciclagem de nutrientes, conforto térmico e mitigação das emissões de gases de efeito estufa. Todo o percurso é acompanhado por um áudio explicativo, em português ou inglês. A tecnologia virtual é uma adaptação do aplicativo “Maquete virtual de ILPF em realidade aumentada”, lançado em 2017 pela Rede ILPF, que tem a participação de instituições de pesquisa das diferentes regiões, incluindo a Embrapa.

A divulgação dos benefícios do sistema ILPF e outras tecnologias presentes no estande da empresa contam com o apoio do Projeto Integrado da Amazônia, executado por meio do Fundo Amazônia, iniciativa gerenciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

 

Campanha de educação sanitária

Como parte da campanha “Diga não à monilíase”, coordenada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizada no âmbito do plano de contingência da doença no estado, com o apoio de diversas instituições, no estande da Embrapa serão distribuídos materiais informativos (cartazes e fôlderes) que enfatizam medidas preventivas e outros aspectos da doença. Pesquisadores e técnicos estarão no local para esclarecer dúvidas dos visitantes e orientar sobre a necessidade de uma postura vigilante em relação ao problema. 

“As campanhas de educação sanitária são essenciais para sensibilizar a população sobre as formas de disseminação, identificação dos sintomas e como proceder com materiais suspeitos da doença. Por ser facilmente disseminada pelo vento e por materiais infectados como plantas, roupas, sementes e embalagens, adotar cuidados como não transportar materiais vegetais e não visitar áreas infectadas em outros países ajuda a minimizar riscos de disseminação”, explica o pesquisador da Embrapa Acre, Amauri Siviero, coordenador das atividades.

Causada pelo fungo Moniliophthora roreri, a monilíase ataca os frutos do cacaueiro (Theobroma cacao), do cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum) e outras plantas do gênero, podendo ocasionar perdas de até 100% na produção e sérios prejuízos para os agricultores. Em 2018 as medidas preventivas para evitar a chegada da doença às plantações brasileiras ganharam reforço no Acre, por meio de um projeto financiado pelo Mapa, executado pela Embrapa, em parceria com o Instituto de Defesa Agroflorestal (Idaf). O trabalho conjunto envolve atividades de monitoramento em áreas fronteiriças, procedimentos laboratoriais para diagnóstico do problema e promoção de campanhas educativas e preventivas.

 

Nutec Móvel

Por meio do Núcleo Móvel de Transferência de Tecnologias (Nutec Móvel), a Embrapa apoia a realização de capacitações que integram a agenda de eventos técnicos da Expoacre 2019, coordenada pela Secretaria de Estado de Produção e Agronegócio (Sepa). Na carreta com cozinha adaptada, instalada ao lado do estande da Empresa, será realizado o curso “Processamento de derivados do Leite”, de 29 a 31 de julho. A atividade é dirigida a produtores rurais que atuam com a atividade leiteira.

 
Foto: Renata Silva

Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC) 
Embrapa Acre 

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ILPF é atração em unidade de conservação na Serra da Mantiqueira – 27/07/2019

Cerca de 500 pessoas visitaram um estande com informações sobre Integração Lavoura- Pecuária-Floresta (ILPF), montado próximo à área de camping do Parque Estadual de Ibitipoca, situado na Serra da Mantiqueira, a 250 quilômetro de Belo Horizonte-MG. A visita ocorreu no Dia Nacional de Visitação às Unidade de Conservação, comemorado no dia 21 de julho. Pesquisadores da Embrapa falaram sobre o papel da ILPF na conservação ambiental. Segundo o pesquisador da Embrapa, Carlos Renato de Castro, a ILPF é uma prática recomendada para a zona de amortecimento, que fica no entorno das unidades de conservação.

O estande foi montado pela Embrapa Gado de Leite, com apoio de um grupo de escoteiros de Juiz de Fora e da polícia do meio ambiente de Minas Gerais. A ação fez parte do evento “Um dia no Parque”, criado para comemorar a data. Quem visitou o estande pode interagir com uma maquete de ILPF em realidade aumentada, usando um aplicativo que mostra os efeitos negativos da degradação e as vantagens para a sustentabilidade ambiental do consórcio da lavoura e pecuária com sistemas florestais.

Uma maquete física também esteve à disposição do público. Nela, pode se conhecer as várias áreas de atuação da pesquisa agropecuária em uma unidade de produção de leite. As crianças que visitaram o Parque foram presenteadas com o livro “As Férias de Julho no Sítio da Tia Amélia”, de autoria da pesquisadora da Embrapa, Deise Xavier, para incentivar a leitura e despertar curiosidade sobre a atividade agropecuária e a importância do leite como alimento para o consumo humano. A Embrapa Gado de Leite também coordenou a Passarinhada, uma caminhada pelas trilhas do parque para observação e fotografia de aves na região.

ILPF e Ibitipoca – A integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) é uma estratégia de produção sustentável que está se consolidando no Brasil como importante opção para o setor produtivo agropecuário. A tecnologia consiste na diversificação e integração dos diferentes sistemas produtivos (agrícolas, pecuários e florestais) dentro de uma mesma área, em cultivo consorciado, em sucessão ou rotação, de forma que haja benefícios para todas as atividades. A estratégia de ILPF, nas suas diferentes modalidades, está sendo adotada em vários níveis de intensidades nos biomas brasileiros.

O Parque Estadual de Ibitipoca é um parque florestal localizado no município de Lima Duarte-MG. Com uma área de 1 488 hectares, está situado a três quilômetros do distrito de Conceição do Ibitipoca, que se sustenta com o turismo atraído pelo parque. Criado em 4 de julho de 1973, é administrado pelo Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais. O ingresso no parque é pago e a visitação limitada. A área de camping possui infraestrutura de restaurante, lanchonete e banheiros. Os pesquisadores da Embrapa Maria de Fátima Ávila Pires e Carlos Renato de Castro, integram o Conselho Consultivo do Parque. “Existe uma forte ligação da Embrapa Gado do Leite com as comunidades do entorno. Há mais de uma década desenvolvemos atividades de pesquisa e transferência de tecnologia para moradores e produtores daquela região”, lembra Maria de Fátima.

As ações da Embrapa na região começaram com um projeto para despertar o turismo rural, que teve vários desdobramentos, como o monitoramento da água e a disseminação do uso de fossas sépticas, bem como a implantação de fossas em algumas propriedades. A Embrapa também participou de um programa de identificação de plantas medicinais e atuou na implantação de unidades demonstrativas de sistemas silvipastoris. A Empresa apoia ainda as ações de caracterização do queijo artesanal de Ibitipoca.

 

Foto: Eliane Hayami

Rubens Neiva (MTb 5445) 
Embrapa Gado de Leite 

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ILPF é tema de workshop em Sete Lagoas – 16/07/2019

Unidade de Referência Tecnológica e de Pesquisa em Sistemas ILP da Embrapa Milho e Sorgo

A Embrapa e a Sementes Oeste Paulista (Soesp) ministraram um workshop sobre o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), em Sete Lagoas-MG, em 5 de julho. Participaram do treinamento 20 consultores de seis lojas da Casa do Adubo, que atendem todas as regiões de Minas Gerais.

A ILPF é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área. Pode ser feita em cultivo consorciado, em sucessão ou em rotação, de forma que haja benefício mútuo para todas as atividades.

“Nossa intenção é capacitar a equipe, para que eles transfiram o máximo de conhecimento técnico para os produtores. Temos esta rotina de treinamento todos os anos. E com a entrada da Soesp para a Rede ILPF, convidamos a Embrapa para difundir o sistema”, disse o supervisor comercial da Soesp, Claudinei Caldeira Henn.

Os temas ministrados no período da manhã foram “Características do Sistema ILPF”, pelo pesquisador Miguel Marques Gontijo Neto, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas) e “Manejo de Pastagem”, pelo zootecnista Diogo Rodrigues da Silva, da Soesp. À tarde, houve uma visita técnica à Unidade de Referência Tecnológica em Sistemas ILPF da Embrapa Milho e Sorgo.

Diogo Rodrigues falou sobre a escolha das forrageiras. “Trouxemos informações e ferramentas para que a equipe tenha melhores condições de indicar a forrageira mais adequada para a região deles. Abordamos as características de cada cultivar, para os diferentes tipos de sistemas. Com estas informações, o profissional e o gerente de pasto têm ferramentas para fazer uma recomendação mais assertiva de forrageira, para uso de maneira mais eficiente nos diferentes biomas do Brasil”, disse.

Em seguida, Miguel Gontijo ressaltou que o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta permite ao produtor diversificar suas atividades e reduz riscos financeiros, uma vez que assegura a obtenção de uma renda média da propriedade. “A ILPF permite aumentar a produtividade, por meio da utilização de tecnologias e manejo adequado. E viabiliza o aumento da eficiência do uso de insumos, mão de obra, equipamentos e recursos naturais, disse”.

Miguel acrescentou que os principais problemas na pecuária são a degradação de pastagens, a falta de alimentos durante o ano, no período da seca, e a baixa produtividade por animal e por área. Já na agricultura, a preocupação é com a monocultura, que ocasiona ocorrência de pragas e de plantas daninhas. A baixa fertilidade, a física do solo e a falta de palhada para o plantio direto também precisam ser observados.

“Por isso, uma grande ferramenta do sistema ILPF é o plantio consorciado, pois garante produção de silagem e forragem para a entressafra e de palhada para o período de seca. Quando o produtor usa a lavoura anual no sistema ele corrige a fertilidade do solo e obtém forragem e grãos para a entressafra de forma econômica”, relatou Miguel.

Dia de campo no sistema ILP

Durante dia de campo realizado na Unidade de Referência Tecnológica e de Pesquisa em Sistemas Integração Lavoura-Pecuária (ILP) da Embrapa Milho e Sorgo, o pesquisador Ramon Alvarenga apresentou os resultados dos últimos anos, destacando o balanço positivo do sistema principalmente na superação dos problemas com o veranico. “Hoje, temos o perfil de solo construído, o que garante a eficiência na produção agropecuária, especialmente em regiões com problemas climáticos como veranico e inverno seco”, ressaltou.

O sistema é composto por quatro piquetes. Três são cultivados na primavera/verão com soja, milho + braquiária e sorgo + panicum. O quarto é pastagem de panicum, dividido em cinco subpiquetes rotacionados, que recebem raças de bovinos especializadas no ganho de carne: Nelore x Angus e Nelore.

No outono/inverno os piquetes são pastagens. O acabamento dos animais se dá em confinamento, onde recebem uma dieta composta por silagem de sorgo BRS 658, grãos de milho e de soja desintegrados e núcleo mineral. A média anual de produção de carne está em 55,5 arrobas por hectare. Os dados foram apresentados pelo pesquisador Miguel Gontijo.

Por fim, o pesquisador Emerson Borghi, da área de Fitotecnia, apresentou uma área de pastagem com a braquiária BRS Piatã em sucessão ao milho. Esta técnica vem sendo muito utilizada em sistemas integrados onde ocorre a introdução do componente pecuária. “Essa braquiária ocupa lugar de destaque em sistemas integrados. Temos que levar em conta apenas a necessidade de se colher o milho mais cedo, para que a colheita seja bem-sucedida”, avalia.

 

Foto: Sandra Brito 

Sandra Brito (MG 06230 JP) 
Embrapa Milho e Sorgo 

Guilherme Viana (MG 06566 JP) 
Embrapa Milho e Sorgo 

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Dia de campo orienta participantes sobre implantação de sistemas integrados – 01/07/2019

Dia de campo no Sítio Universitário Unicep aconteceu sábado

Para entender como funciona a integração lavoura-pecuária (ILP) e as vantagens desse sistema, produtores, técnicos e estudantes participaram de dia de campo. O evento ocorreu no sábado, 29 de junho, no Sítio Universitário Unicep, em São Carlos (SP).

Os participantes visitaram três estações. Na primeira, os pesquisadores Alberto Bernardi e José Ricardo Pezzopane apresentaram o que é ILP e ILPF, os conceitos e fundamentos desse modelo de produção.

Os especialistas citaram as principais modalidades de integração, oportunidade que esses sistemas oferecem para diversificação de renda e os requisitos para iniciar lavoura em área de pecuária e vice-versa.

Como foi implantada a integração de pastagem com milho no sítio universitário foi relatada pelo administrador operacional Rodrigo Rodrigues na segunda estação. Em janeiro deste ano, foram cultivados quatro hectares de milho com capim piatã e paiáguas. O milho foi colhido no final de abril para silagem, usada para alimentação do rebanho leiteiro. “A integração melhorou a fertilidade do solo e, consequentemente, propiciou uma pastagem de melhor qualidade”, explicou Rodrigues. Segundo ele, a intenção é dobrar a área de integração na próxima safra.

Na estação sobre produção de silagem com qualidade, o pesquisador André Pedroso abordou quais os tipos de silagens e de silos, quais as características das forragens que devem ser observadas no processo de ensilagem, detalhou as etapas de produção desse alimento e as principais plantas forrageiras ensiladas no Brasil.

O produtor José Arthur Antunes, de Araraquara (SP), participou do dia de campo em busca de mais informações sobre a ILP. Ele trabalha com cana e gado de corte. Antunes pretende integrar uma área de 12 hectares em sua fazenda. “Estou atrás de informações técnicas sobre a melhor maneira de fazer a integração na minha propriedade”, conta.

Rodrigo Modulo, de Tietê (SP), é engenheiro florestal e presta consultoria técnica em todo o país. O interesse dele no evento foi conhecer as novidades e os resultados das pesquisas da Embrapa com sistemas integrados de produção para levar aos seus clientes.

Para Hélio Omote, coordenador do evento, a realização de Dias de Campo contribuem para o intercâmbio de conhecimentos entre produtor, técnico e pesquisadores, e, dessa forma, ampliar a adoção desses modelos sustentáveis de produção agropecuária. O dia de campo foi promovido pela Embrapa Pecuária Sudeste e
Unicep (Centro Universitário Central Paulista).

 

 

Foto: Gisele Rosso

Gisele Rosso (MTb/3091/PR) 
Embrapa Pecuária Sudeste 

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Planejamento para atingir resultados na ILPF – 28/06/2019

ILPF pode conciliar grãos, gado e árvores

Na Região Sul a área agricultável é estimada em 45 milhões de hectares. O uso desta área conta com lavouras em 35%, pastagens naturais em 34%, pastagens plantadas em 13%, florestas naturais em 11% e florestas plantadas em 4%. Otimizar o uso da terra exige planejamento capaz de trazer vantagens agronômicas e retorno econômico ao produtor. Esta é a proposta do projeto de Integração Lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que foi tema do terceiro módulo da capacitação Embrapa e Sistema OCB-Sescoop, realizado nos dias 25, 26 e 27 de junho, em Passo Fundo, RS.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo Renato Fontaneli, a ILPF pode trazer muitas vantagens aos sistemas produtivos da Região Sul (PR, RS e SC), com possibilidade de adequar as tecnologias às diferenças regionais. “Podemos incluir o componente florestal, apenas a pecuária e a produção de grãos, combinar modelos com cultivos de inverno e de verão, em solo arenoso ou encharcado, campo nativo ou pasto cultivado, entre outros. É preciso adaptar as tecnologias disponíveis às necessidades da propriedade de forma a otimizar o sistema produtivo”, explica Fontaneli.

Para o Presidente da Fecoagro/RS, Paulo Pires, a intensificação do sistema produtivo é a saída para a estabilidade financeira do produtor, principalmente com o melhor uso do inverno: “Estamos apostando no trigo como a melhor alternativa para rentabilizar o produtor no inverno, mas certamente a movimentação da propriedade depende da diversificação, buscando várias opções capazes de gerar renda na mesma área. Neste contexto os sistemas integrados mostram viabilidade técnica e econômica”. 

Paulo Pires também apresentou a Rede Técnica das Cooperativas (RTC), criada em 2018, agregando as áreas técnicas de pesquisa e mercado de 32 cooperativas agropecuárias gaúchas. Segundo ele, o foco da RTC é criar um corpo de pesquisa integrado que dê suporte às cooperativas, otimizando os custos e a aplicabilidade dos estudos desenvolvidos e permitindo a troca de ideias e compartilhamento de informações.

Vantagens agronômicas do ILPF

Uma das principais vantagens agronômicas do sistema ILPF na Região Sul é a melhoria do solo. A rápida cobertura do solo logo após a colheita de grãos é possível com a introdução de gramíneas e leguminosas que, além de proteger contra intempéries (déficit hídrico, enxurradas), promovem melhorias químicas e físicas no solo com a incorporação de raízes, palhada para plantio direto, controle de plantas daninhas, maior teor de matéria orgânica e fixação de nitrogênio através de leguminosas forrageiras, entre outros benefícios.

Contudo, para usufruir dos benefícios dos sistemas integrados é preciso planejamento de uso das áreas com ILPF em curto, médio e longo prazos. “O produtor vê a boa oferta de forragem e coloca muitos animais no piquete, uma superlotação que ‘rapa’ o pasto, causando problemas de erosão, baixa fertilidade, trazendo pragas e doenças para a área”, alerta o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Júlio Cesar Salton. Conforme o pesquisador, a pecuária em solo degradado pode implicar num prejuízo de R$ 133,00 por hectare na margem operacional, com ganho de peso diário até três vezes menor do que a engorda numa boa pastagem. A espera para o abate também pode levar o dobro do tempo, aumentando de dois para quatro anos em função da qualidade da pastagem.

Para verificar como funciona a ILPF na prática, a turma de 40 profissionais dos departamentos técnicos das cooperativas participantes da capacitação Embrapa-OCB-Sescoop, visitou produtores na região norte do Rio Grande do Sul para avaliar in loco os resultados com os sistemas integrados. Em Boa Vista das Missões/RS, a visita ao produtor Ivonei Librelotto, com assistência técnica do engenheiro agrônomo Ruben Kudiess, mostrou resultados de integração lavoura-pecuária na produção de grãos, associada à engorda de novilhos em pastagem de trigo BRS Tarumã e BRS Pastoreio. O investimento em genética e planejamento forrageiro, somados a boas práticas de manejo, permitiram aumentar o rendimento de grãos em quatro vezes e aumentar a produção de carne em oito vezes. Em produção de leite, na fazenda vizinha de Ari Busanello, otimizar o inverno permitiu atingir a média diária de produção no leite de 34 litros/vaca (enquanto a média no RS é de 10,5 litros/vaca/dia).

Os produtores visitados representam o modelo mais utilizado no Brasil, a integração lavoura-pecuária, que representa 83% dos sistemas de produção integrados em uso no País. Contudo, o engenheiro florestal Gilmar Deponti, da Emater/RS – regional de Santa Maria, avalia que na produção agropecuária o animal precisa de água, alimento e sombra. Ele argumenta que as árvores deixam o ambiente menos quente no verão e menos frio no inverno: “a redução da temperatura na sombra das árvores pode chegar a 8ºC no verão, trazendo bem-estar animal que pode refletir no retorno final da produção”. Quanto à possível redução na produtividade de grãos ou no volume das pastagens em função do sombreamento, o engenheiro florestal explica que “em ILPF, mesmo com menor produção em algum componente do sistema, o conjunto da propriedade torna-se mais sustentável e rentável”, lembrando que, embora a produção de madeira seja menor no sistema ILPF, geralmente, atinge maior valor de mercado. 

Somente no Rio Grande do Sul, estão registrados na Ageflor quase 800 mil hectares de florestas comerciais, ou seja, silvicultura convencional. Espaço, segundo os especialistas, com grande potencial para crescimento do ILPF no Estado. “Em regiões campestres, é melhor o produtor cultivar árvores de forma dispersa, transformadas em energia, cerca e palanques para consumo na propriedade. Para quem trabalha com silvicultura convencional, basta fazer um forte raleio para transformar em sistema silvipastoril (árvores + pastagem)”, esclarece Gilmar Deponti.

Para o engenheiro agrônomo da Cotribá, Vinícius Floss, a maior dificuldade está em convencer o produtor a adotar o componente florestal: “o cooperado nem sempre consegue enxergar a propriedade de forma integrada. As vacas geralmente estão separadas da lavoura de grãos. Vejo o ILPF como uma estratégia importante para mostrar ao produtor que é possível, rentável e seguro, trabalhar com sistemas integrados. Mas no caso das árvores, é difícil convencer para um investimento que trará retorno a longo prazo. Criou-se na agricultura a busca por respostas rápidas, tecnologias prontas e com pouco critério agronômico. Precisamos de tempo para alcançar estas transformações preconizadas pelo ILPF”, diz Floss.  

Participam da capacitação Embrapa e Sistema OCB-Sescoop na cadeia produtiva de cereais de inverno 2019 profissionais dos departamentos técnicos das cooperativas Cooperante, Cocamar, Coamo, Camnpal, Cotriel, Coopatrigo, Coasa, Cotapel, Cotripal, Coagril, Cotribá, Coopermil, Cotrisal, Cotricampo, Cotrijal, CCGL e Auriverde, além da Fecoagro/SC e do Senar/RS.

Saiba mais sobre o tema Integração Lavoura-pecuária-floresta na Região Sul ouvindo a entrevista com o pesquisador da Embrapa Trigo, Renato Fontaneli.

 

Foto: Gabriel Faria

Joseani M. Antunes (MTb 9396/RS) 
Embrapa Trigo 

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