Gado em sistema integrado com floresta procura menos água – 28/08/2018

Vacas com bezerro participaram do experimento no sistema ILPF

Resultados de pesquisa envolvendo o comportamento de bovinos revelam que animais criados em sistemas integrados com árvores frequentam menos os bebedouros em comparação com aqueles criados em sistemas convencionais, a pleno sol. A redução chega a 19%, de acordo com estudo desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste (SP). Trata-se de uma das vantagens de sistemas de produção como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que vem sendo adotada gradativamente no País, chegando a quase 12 milhões de hectares.

Essa e outras vantagens da estratégia de produção ILPF são relatadas pelo pesquisador Alexandre Rossetto Garcia, que trabalha com biotecnologia da reprodução animal. Ele integra uma equipe multidisciplinar que vem comparando a criação de bovinos nos sistemas integrados e convencionais.

Rossetto é orientador da dissertação de mestrado de Alessandro Giro, da Universidade Federal do Pará (UFPA), médico veterinário que desenvolveu a pesquisa sobre o conforto térmico dos bovinos criados em ILPF. Durante a pesquisa, foram avaliados também o comportamento dos animais e a frequência de ida a bebedouros e cochos de sal mineral. O consumo de água em volume não foi diretamente medido. O trabalho de campo foi realizado de janeiro a junho de 2017 e a dissertação foi defendida em julho de 2018.

O trabalho foi feito por observação visual em campanhas mensais de dois dias consecutivos, ao longo de oito horas por dia. A equipe ficava a uma distância que não interferisse no comportamento dos animais. O estudo constatou que, no período da tarde, 87% dos animais que estavam expostos ao sol foram ao bebedouro.  Na área sombreada, esse índice caiu para 63% no mesmo período. A diferença foi maior nos meses de janeiro a março, quando as temperaturas, em geral, são mais elevadas.

Sistemas ILPF otimizam os recursos naturais

“Na área de ILPF, onde estão as árvores, buscamos também observar se os animais procuravam mais os espaços sombreados ou com sol. Medimos o tempo em minutos em que eles permaneceram no sol e na sombra. Constatamos que eles preferem a sombra, independentemente do turno”, afirmou Alessandro. Os animais que tiveram possibilidade de escolha entre sol e sombra passaram mais tempo pastejando, em ócio ou ruminando sob a copa das árvores.

O animal que sofre com o estresse pelo calor reduz a ingestão de alimentos. “Quando se abriga na sombra, a carga térmica sobre o animal diminui e ele tem menor necessidade de dissipar o calor para o meio. Isso reduz a ofegação e a transpiração, minimizando a demanda por ingestão de água”, explica Rossetto.

Quando precisa dissipar calor, o animal gasta energia em processos não relacionados à produção de leite e carne e à reprodução. Segundo o pesquisador da Embrapa, a ILPF permite o uso mais inteligente do recurso natural. O sombreamento reduz a temperatura ambiente em até 5ºC, o que é relevante para o conforto térmico e o bem-estar animal.

Precisão no monitoramento do gado

Rossetto explica ainda que a variação de 0,5 ºC na temperatura interna dos animais é bastante expressiva. Os termógrafos utilizados para medir as temperaturas de superfície dos bovinos são muito precisos, chegando a mensurar os centésimos de graus. Segundo ele, dois fatores influenciam o bem-estar animal: o microclima (conjunto de informações que pode ser avaliado com auxílio de estações meteorológicas) e as condições térmicas dos indivíduos nessas áreas.

Em estudos mais recentes, outros equipamentos têm ajudado a ciência a levantar dados para monitorar o gado. A Embrapa Pecuária Sudeste também consegue informações sobre comportamento animal graças a adaptações de técnicas disponíveis no mercado. Pesquisadores têm trabalhado em projetos de pecuária de precisão, utilizando um sistema computadorizado que identifica o deslocamento, o ócio e a ruminação a partir de colares com sensores acoplados.

Para que os equipamentos funcionem em áreas de pastagens para gado de corte, inclusive em ILPF, foi preciso instalar antenas para emitir os sinais sem fio e placas de energia solar para alimentar o sistema. As placas solares para captação de energia foram desenvolvidas pelo centro de pesquisa como forma de reduzir custos e viabilizar o uso de equipamentos a campo. Originalmente, a empresa privada que produziu o sistema computadorizado direcionou os equipamentos para monitorar gado de leite, que tem movimentações diárias mais previsíveis, como o momento das ordenhas.

De acordo com Edilson da Silva Guimarães, supervisor do Núcleo de Tecnologia da Informação, a Embrapa Pecuária Sudeste indicou a essa empresa adaptações para os sistemas de energia e de comunicação. “A transmissão de dados é feita de uma antena a outra, como se fosse uma malha. Sugerimos que mudassem o tipo de antena para melhorar a comunicação entre elas”, afirmou. Os dados coletados pelos sensores são enviados para uma central e podem ser acessados a distância, em computadores. Esses equipamentos foram adquiridos com recursos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com contrapartida da Embrapa.

O trabalho avaliou comportamento de fêmeas bovinas de corte em pastagens sem árvores com o sistema wireless de monitoramento e foi apresentado no III Workshop Internacional de Ambiência de Precisão, em 2017, em Campinas.

Pesquisas multidisciplinares

A equipe multidisciplinar da Embrapa Pecuária Sudeste estuda na ILPF, além do comportamento animal, a disponibilidade e qualidade de forrageiras, a fertilidade do solo, o desenvolvimento do componente arbóreo, a produtividade agrícola, o desempenho e eficiência reprodutiva do componente animal, além de algumas ações que investigam a emissão de metano e a microbiota do solo.

De acordo com Rossetto, o comportamento dos bovinos está muito relacionado à interação entre eles e à ocupação do espaço. Perguntas como “os animais aproveitam a sombra?” e “em que momentos do dia preferem as áreas sombreadas?” ajudam a ciência a entender melhor as diferenças entre os sistemas integrados com árvores e a criação exclusiva no sol.

Conforto térmico e capacidade reprodutiva

A fertilidade de bovinos também pode ser afetada pela exposição a temperaturas elevadas e à radiação solar intensa. Sempre que a temperatura corpórea dos bovinos de corte ou de leite aumenta, uma série de consequências negativas se desencadeia. Quando um animal sente desconforto devido ao calor, ele passa a produzir uma quantidade maior de cortisol, hormônio diretamente ligado ao estresse. De acordo com Rossetto, o aumento da concentração desse hormônio faz com que os animais se alimentem menos, o que prejudica significativamente a produção. Em um animal de corte, o crescimento é menor e, consequentemente, a produtividade.

Do ponto de vista reprodutivo, os altos índices termocorpóreos representam prejuízos ao produtor. Por exemplo, quando a temperatura corpórea de um touro aumenta, a temperatura interna dos testículos também sobe. Isso faz com que a qualidade do sêmen reduza. Na fêmea, o processo é similar. Quando sua temperatura interna aumenta, os ovócitos produzidos são de baixa qualidade, impedindo, muitas vezes, a fecundação.

Caso ela ocorra, o embrião exige condições favoráveis para seu desenvolvimento e a temperatura ideal é uma delas. O feto é altamente sensível às oscilações térmicas e pode até morrer precocemente, sem que os profissionais que acompanham a gestação percebam. Ainda assim, em situações de estresse durante a fase gestacional, o desenvolvimento e a funcionalidade da placenta são prejudicados e o feto pode apresentar malformações.

As pesquisas sobre conforto térmico e eficiência reprodutiva foram feitas com novilhas e fêmeas adultas de corte em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Rossetto está planejando a continuidade de pesquisas nessa linha com machos em idade reprodutiva.

 
Foto: Gisele Rosso

Ana Maio (MTb 21.928/SP) 
Embrapa Pecuária Sudeste 

Vacas produzem quase 20% a mais de embriões em áreas sombreadas

Vacas com bezerro participaram do experimento no sistema ILPF

Vacas que vivem em áreas sombreadas em sistemas integrados de produção (com lavoura, pecuária e floresta) têm apresentado resultados satisfatórios também quando o assunto é eficiência reprodutiva. Um estudo que compara as vacas a pleno sol com as que têm acesso à sombra foi desenvolvido na Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) em um projeto que avaliou o conforto térmico e a eficiência reprodutiva, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Embrapa.

O resultado dessa pesquisa acaba de ser premiado na 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões, considerada o maior congresso de reprodução animal do país. O estudo foi apresentado pela doutoranda Amanda Prudêncio Lemes, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal. O experimento foi desenvolvido no sistema ILPF (Integração Lavoura- Pecuária-Floresta) da fazenda Canchim, onde funciona a Embrapa Pecuária Sudeste. A competição para estudantes nas categorias “área aplicada” e “área básica” aconteceu de 16 a 18 de agosto em Florianópolis (SC).

Amanda foi orientada pela professora Lindsay Gimenes, da Unesp, e coorientada pelo pesquisador Alexandre Rossetto, da Embrapa. Os dois estiveram no congresso e acompanharam a premiação.

De acordo com Rossetto, o estudo indica que as vacas que vivem em pleno sol apresentaram taxa de produção de embriões de 36%. Já as que vivem em área sombreada tiveram um incremento nessa taxa, que chegou a 43%. Esse aumento de 7 pontos percentuais  – equivalentes a quase 20% – representa um impacto significativo, segundo Rossetto, especialmente porque o experimento foi realizado em um sistema já ajustado e que apresenta boas taxas de produção de embriões.

O experimento foi feito com 18 vacas com bezerros ao pé mantidas no sistema ILPF da Embrapa durante o verão e o outono. Essas vacas pariram no sistema e, uma vez por mês, eram levadas ao curral para aspiração de folículos ovarianos, onde ficam os gametas. Esses gametas foram entregues a um laboratório particular em Cravinhos (SP), que produziu os embriões.

“A produção de embriões foi usada como medida da eficiência reprodutiva”, explicou Rossetto. Os resultados mostraram que o microclima mais favorável observado no sistema ILPF, com menor incidência de radiação solar sobre os animais, contribuiu para o aumento na produção de embriões.

São parceiros do projeto a Embrapa Pecuária Sudeste, Unesp de Jaboticabal, Universidade Federal Fluminense (UFF), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, Universidade Federal do Pará (UFPA), Oregon State University (EUA), Laboratório Vitrogen (Cravinhos-SP) e GS Reprodução Animal.

Em outro estudo recente, a Embrapa Pecuária Sudeste já havia constatado que a criação de animais em sistemas integrados indicou que matrizes de corte que permanecem em área sombreada procuram menos os bebedouros. A frequência em busca de água chega a cair 19% em sistemas com árvores.

 

Foto: Alexandre Rossetto

Ana Maio (Mtb 21.928) 
Embrapa Pecuária Sudeste 

Integração Lavoura-Pecuária leva soja ao noroeste do Paraná – 30/10/2018

Fazenda Flor Roxa conseguiu plantar em solo arenoso após uso do ILP

A produção de gado e de grãos no mesmo espaço, técnica conhecida como Integração Lavoura-Pecuária (ILP), tem mudado a paisagem do noroeste paranaense ao conseguir um feito antes considerado improvável: implantar lavouras de soja na região conhecida por solos arenosos. Trabalhada por lá desde os anos 2000, a ILP conseguiu recuperar as pastagens degradadas e aumentar a produtividade, o que trouxe benefícios ambientais e econômicos para a região.

“Era um desafio produzir grãos no arenito, já que o solo tem baixa capacidade de retenção de água e o calor influencia a demanda maior de água pelas plantas. A adoção da ILP vem colaborando com a mudança dessa realidade”, conta o pesquisador Alvadi Balbinot, da Embrapa Soja (PR). A cadeia produtiva agropecuária mais importante da região é a pecuária de corte, com cerca de dois milhões de cabeças de gado.

 

Produtor pioneiro, César Vellini destaca vantagens de integração Lavoura Pecuária no Arenito Caiuá, no Paraná

 

Produtividade acima da média do estado

Até o início dos anos 2000, a atividade principal da fazenda Flor Roxa, com aproximadamente 1,6 mil hectares, em Jardim Olinda, no noroeste do Paraná, era a criação de bovinos. O produtor César Vellini explica que as pastagens estavam em estado avançado de degradação e que, buscando novas opções para diversificar, resolveu introduzir a soja no sistema. Aos poucos, Vellini foi transformando a realidade da fazenda a partir da ILP. A cada dois anos, são alternados os cultivos, por meio de um planejamento rotativo em 33% da área. A soja e a cana entram no verão, com milho e braquiária no inverno.

Os resultados têm surpreendido. Na safra 2016/2017, por exemplo, na Fazenda Flor Roxa a média de produtividade da soja foi 74 sacas por hectare, enquanto a média do Paraná foi de 61 sacas por hectare. Apesar da produtividade elevada, o produtor insiste na rotação que é recomendada pelo sistema. “Sei que não dá para plantar apenas soja, porque a gente tem que pensar no sistema como um todo para ter mais vantagens econômicas e ambientais em todas as atividades no futuro”, afirma.

A segurança na adoção da ILP, de acordo com Vellini, vem da certeza dos benefícios que retornam em longo prazo. Uma das vantagens é a fertilidade do solo. “A gente faz a reforma de pasto praticamente sem custo, ou melhor, a fertilidade empregada na soja paga a reforma do pasto”, explica. “Se a gente não faz isso, a pastagem vai se degradando e o gado fica sem alimento. Hoje tenho pasto de sobra aqui na fazenda para alimentar os animais. E ainda reduzo o custo e aumento a produtividade”, comemora.

Solo e clima desafiadores

O noroeste do Paraná abriga o Arenito Caiuá, formação de solo presente em 107 municípios do estado. Esse Arenito é caracterizado por solos arenosos (entre 10% e 30% de argila) espalhados em mais três milhões de hectares. Além disso, a região tem ainda baixa altitude, o que favorece o calor excessivo no verão. Essas características propiciaram a instalação da produção de gado de corte e leite e a manutenção de pastagens perenes. “Vale destacar que os solos arenosos têm pouca resistência ao processo erosivo e baixa fertilidade, favorecendo a degradação das pastagens”, avalia Balbinot. O pesquisador explica ainda que, em geral, não são realizadas adubações de correção e a manutenção necessária para que haja qualidade das forrageiras.

Modelo de ILP para clima tropical e solos arenosos

Associada à bovinocultura, a região do arenito sempre contou com cultivos de cana-de-açúcar e produção de mandioca, mas a produção de grãos encontrava várias limitações. A adoção da ILP e, em especial, a possibilidade de produzir soja com sustentabilidade, estimulou alguns produtores a driblarem as adversidades nas últimas duas décadas.

No entanto, ao iniciar a introdução da soja na região, no início dos anos 2000, Balbinot conta que os produtores tiveram dificuldade em manejar a erosão e controlar as plantas daninhas. Além disso, não havia cultivares de soja resistentes ao glifosato, o que dificultava o controle da braquiária no meio da lavoura da leguminosa. “Hoje com tecnologia disponível é possível manejar as dificuldades”, afirma.

Para o pesquisador, a adoção de estratégias preconizadas no sistema de plantio direto e essencialmente a utilização da diversificação de culturas é determinante para produzir soja na região. A adoção do plantio direto, segundo ele, ajuda na conservação do solo e da água, porque minimiza a erosão; aumenta a retenção de água e nutrientes no solo; melhora os atributos biológicos do solo e reduz os picos de temperatura; assim como diminui a infestação de plantas daninhas. “O plantio direto pode ser considerado ’pedra angular‘ para o cultivo de espécies anuais em solos arenosos, incluindo a soja”, destaca o cientista da Embrapa.

O pesquisador ressalta ainda que é importante considerar o sistema de ILP como um todo, identificando a produtividade e o custo de produção de todas as atividades para se obter os melhores resultados. “Os benefícios da ILP no noroeste paranaense vão muito além do fortalecimento do agronegócio, pois também tem contribuído para o desenvolvimento da região como um todo”, enfatiza.

Pesquisador Alvadi Balbinot explica como a sinergia entre pecuária e produção de grãos favorece o agronegócio no arenito Caiuá, no Paraná.

Balbinot diz que um modelo de produção que vem demonstrando viabilidade operacional e econômica é o que preconiza 50% da área com pastagens (braquiária ruziziensis ou braquiária brizanta) na época primavera/verão e 100% no outono/inverno, época de menor produção forrageira. “A inserção da soja após a manutenção da pastagem perene por dois anos se justifica em razão da perda de produtividade de forragem após o segundo ano”, explica Balbinot. “Por outro lado, a implantação de pastagem perene, após duas safras de soja, melhora a qualidade física do solo”, explica o pesquisador. “Com o modelo utilizado, há menores variações de produção forrageira entre as estações do ano, reduzindo o uso de forragem conservada na forma de silagem ou feno”, comenta.

 

Lebna Landgraf (MTb 2903/PR) 
Embrapa Soja 

Sistemas integrados garantem produção sustentável na Caatinga – 17/12/2018

Em Ibaretama (CE), o sistema ILPF garante reserva de alimento para rebanho

 

Além de aumentar renda do produtor, sistemas integrados podem combater desertificação no semiárido

Produtores do Semiárido encontraram no sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e nos sistemas agroflorestais um jeito eficiente de diversificar as atividades de suas propriedades. Com isso, conseguiram aumentar o faturamento da atividade, sem impactar o meio ambiente, adotando manejo mais sustentável. Com a ILPF é possível ainda recuperar áreas degradadas e combater a desertificação. 

Na comunidade Sítio Areias, em Sobral (CE), desde 2012 alguns produtores já experimentam com sucesso a prática de sistemas de produção agroflorestais, com a criação de bovinos, caprinos, ovinos e suínos; a lavoura de milho e feijão; a produção agrícola de verduras e ervas medicinais.

Madeira garante renda na seca
Segundo o zootecnista Rafael Tonucci, pesquisador da área de Forragicultura e Pastagens da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE) o sistema permite integrar a produção vegetal, animal e florestal na propriedade. Em anos de seca muito intensa, quando a lavoura produz pouco é possível obter renda com o corte e comercialização da madeira.

Na região de Sobral, a Embrapa desenvolve experimentos em áreas pequenas, com menos de dois hectares, combinando o cultivo de espécies de mata nativa com culturas agrícolas e gramíneas para formação de pasto, possibilitando a diversificação da produção.

“São exemplos de como o sistema ILPF pode ser viável no âmbito da agricultura familiar”, diz Tonucci. Em Ibaretama, município do Sertão Central do Ceará, por exemplo, em duas áreas de um hectare cada, foi registrada uma produção de 25 a 30 toneladas de matéria verde, suficiente para garantir alimento para o rebanho (silagem) para um período de dois anos. “Para isso, foi preciso apenas conhecer os princípios desses sistemas e adequá-los à realidade daquele local”, enfatiza o pesquisador.

Alguns agricultores estão obtendo produtividades maiores em suas lavouras mudando apenas uma prática baseada no uso do fogo para uma produção ambientalmente sustentável. “No meu quintal tudo dá. Já colhi abacaxi, verdura, tomate, pimentão. E já doei sacolas de verduras para a escola da cidade”, conta a agricultora Regina de Sousa.

ILPF recupera solos degradados
No experimento em Ibaretama, estão sendo usadas duas áreas cedidas por um produtor rural. Em uma delas, de 1,5 hectare, foram plantadas linhas de sabiá (árvore da Caatinga) para composição de floresta, além de feijão caupi, milheto, sorgo e girassol. Os resultados do plantio foram usados de forma diversificada: o feijão foi aproveitado para colheita, sorgo e girassol foram usados para silagem aos animais, o milheto serviu para compor a cobertura vegetal do solo (condição importante em áreas de solos menos férteis).

“Em uma área de solo pobre, onde não se produzia nada, conseguimos plantar floresta com sucesso, usando essas técnicas para recuperação de solo degradado, e já temos forragem disponibilizada para os animais na estação seca”, explica Rafael Tonucci. Em outra área, de um hectare, além do sorgo e milheto, foram introduzidas plantas leguminosas (leucena e gliricídea), entre outras espécies nativas, e também o capim Massai, na expectativa de compor pasto para os animais nos próximos anos. 

Sistemas em base comunitária
Outra prática adotada por produtores da região é a de adequação dos sistemas de produção locais a uma perspectiva de base agroecológica, o chamado redesenho para compor sistemas agroflorestais. Na comunidade Sítio Areias, em Sobral, a Embrapa incentivou este trabalho em base comunitária: os produtores locais integram suas áreas de criação de animais para produção e lavoura às áreas de uso sustentável da caatinga nativa, inclusive com o intercâmbio de forragem ou esterco entre os agricultores.

Segundo o zootecnista Éden Fernandes, analista da Área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Caprinos e Ovinos, estas trocas são outro benefício para comunidades de agricultores familiares. “O produtor que optou por um componente mais agrícola acaba cedendo a forragem para outro produtor que já tem um sistema de natureza pastoril. “Ele colhe o milho por exemplo, para sua alimentação e cede a palhada como forragem para outro agricultor que cria caprinos ou bovinos. Esse outro produtor também faz a partilha, devolvendo leite produzido em sua propriedade”, detalha. 

Busca da sustentabilidade
Uma das perspectivas das pesquisas em sistemas de produção integrados no semiárido brasileiro é contribuir para a sustentabilidade da produção agropecuária, em seus diversos aspectos. “As vantagens deste tipo de sistema para aquela região são de natureza biológica e socioeconômica. Biológica porque tem componentes diferentes no sistema, explorando luz, água e nutrientes, além da conservação do solo e da água. Nas questões socioeconômicas, temos a oportunidade do retorno de renda e a diversificação dos bens e serviços gerados”, destaca Fernandes.

Em sistemas dessa natureza, há diversas possibilidades para uso das árvores, desde sua utilização como um fator contribuinte para preservação do solo e como sombra para o bem-estar dos animais até a exploração da madeira de algumas espécies para incremento da renda dos agricultores.

“No Semiárido, é possível manter sempre a cobertura vegetal, mantendo assim, um pouco de água no solo. Além disso, as árvores também servem de barreira para um outro problema sério nesta região: a erosão eólica (provocada pelos ventos)”, acrescenta o pesquisador Rafael Tonucci.

Outra perspectiva é de que os experimentos mostrem a viabilidade de um arranjo espacial que, ao combinar lavoura, pecuária e florestas, otimizando e intensificando o uso das áreas produtivas, permita a futura introdução de máquinas agrícolas. 

Sistemas de produção integrados 
Os sistemas de integração envolvem a produção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou carne na mesma área, em plantios em rotação, consorciação ou sucessão. O sistema funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais (arroz, feijão, milho, soja ou sorgo) e de árvores, associado a espécies forrageiras (braquiária ou panicum). Existem várias possibilidades de combinação entre os componentes agrícola, pecuário e florestal, considerando espaço e tempo disponível, resultando em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuária (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF).

Adoção de ILPF no Nordeste brasileiro
Uma pesquisa realizada em 2016 pela empresa Kleffman Group, por solicitação da Rede ILPF [parceria público-privada formada por Embrapa, Cocamar, Bradesco, John Deere, Soesp e Syngenta, com objetivo de acelerar adoção das tecnologias de integração no país] apresentou alguns dados sobre a realidade dos sistemas de integração na região Nordeste. Dos 493 produtores rurais entrevistados (com bovinocultura como atividade predominante), 60% já conhece o conceito de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, embora a adoção do sistema na região ainda seja de 41% – alguns dos estados apresentam índices de adoção acima dessa média, como é o caso de Alagoas (51%) e Sergipe (44%).

Um fator positivo mostrado neste levantamento é que entre os produtores entrevistados que já adotam sistemas ILPF, 78% dizem estar satisfeitos ou muito satisfeitos. Os maiores índices de aprovação estão no Rio Grande do Norte (89%), Bahia (87%) e Ceará (85%). Entre aqueles que já adotam este tipo de sistema ou pretende adotar no futuro, as motivações apontadas com maior frequência pela pesquisa são: promover recuperação de pastagens, reduzir o impacto ambiental e fazer rotação de culturas agrícolas.

 

Foto: Rafael Tonucci

Adilson Nóbrega (MTB/CE 01269 JP) 
Embrapa Caprinos e Ovinos 

Sombra na ILPF não aumenta incidência de verminoses em gado de corte – 28/11/2017

 

Animais aproveitam o conforto térmico da sombra das árvores

A incidência de verminoses em gado de corte em sistema silvipastoril (pecuária-floresta) não é maior do que na pecuária exclusiva. A conclusão é de uma pesquisa que acaba de ser encerrada na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). A informação contraria a hipótese inicial de que as condições microclimáticas no sistema silvipastoril poderiam favorecer a ocorrência de vermes.

Esse resultado mostra que, nos sistemas de pecuária integrada com árvores, o controle de verminoses não precisa ser diferente em relação à pecuária tradicional. O número de dosagens de vermífugos deve ser o mesmo em ambos os sistemas de produção.

Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), a pesquisa avaliou durante dois anos a quantidade de ovos de helmintos por grama de fezes em animais da raça Nelore, com peso inicial de 250 kg. Também foram monitoradas a quantidade e a diversidade de espécies de insetos coleópteros nos sistemas, como os besouros rola-bosta. Esses animais atuam na decomposição do bolo fecal.

Como os vermes utilizam as fezes frescas na fase de vida livre, a atuação dos coleópteros e o tempo necessário à degradação do bolo fecal estão diretamente relacionados à incidência de verminoses no rebanho, proporcionando um controle natural.

De acordo com o pesquisador Luciano Lopes, quando comparados os dois sistemas, não houve diferença nem na quantidade de ovos de helmintos presentes nas fezes, nem na quantidade e diversidade de coleópteros e nem mesmo no tempo de decomposição do bolo fecal. A comparação entre o rendimento do gado em ganho de peso também não indicou qualquer variação causada pelas verminoses.

“Nos respaldamos na literatura para explicar o que pode ter acontecido. Uma das razões que considero pertinentes é que como no sistema solteiro nós trabalhamos bem e com alta performance, e alta lotação, encontrei nesse monocultivo uma disponibilidade de alimento muito grande para esses besouros. Talvez esse seja um fator fundamental. Se eu tivesse comparado com uma pastagem com menor capacidade de suporte, talvez encontrasse diferença. Como tenho um número maior de placas fecais e consequentemente maior disponibilidade de alimentos, isso pode ter feito a diferença”, avalia o pesquisador da Embrapa Luciano Lopes.

Considerado positivo para o sistema ILPF, o resultado contraria a hipótese inicial de que o sombreamento aumentaria a incidência de verminoses. Tal suposição veio de outro resultado de pesquisa desenvolvida na Embrapa Agrossilvipastoril, em que numa área de ILPF com pecuária leiteira, verificou-se que a sombra contribuiu para maior contaminação das pastagens por larvas de parasitas.

“Como tenho uma condição microclimática melhor no silvipastoril, ela é boa para o animal, porém é também favorável para a fase de vida livre desse parasita. Com a área sombreada, é possível aumentar a contaminação das pastagens”, ressalta o pesquisador.

Porém, mesmo com o aumento do risco de contaminação na sombra, os resultados na pesquisa com a pecuária de corte não apontaram diferença.

“Apesar de a contaminação poder ser maior, o animal não parece ser afetado pelo problema. Isso pode ser explicado pela resposta imunológica. O que nos leva a acreditar que o animal nessas condições microclimáticas é capaz de reagir melhor do ponto de vista de resposta imune do que o animal a pleno sol, sem nenhum tipo de sombreamento. A avaliação do sistema imunológico e dos indicadores do sistema imune será a última etapa do processo, para fechar o ciclo,” explica Lopes apontando os próximos passos da pesquisa.

De acordo com o cientista da Embrapa, o resultado obtido com gado nelore poderia ser diferente caso fosse feito com raças leiteiras, uma vez que os animais de leite são mais sensíveis aos parasitas que os de corte.

O experimento de ILPF com pecuária de corte da Embrapa Agrossilvipastoril conta com parceria com a Acrimat e com a Acrinorte, auxiliando com a manutenção do rebanho e fornecendo animais para uso nas pesquisas.

 

Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria (MTb 15.624/MG) 
Embrapa Agrossilvipastoril 

Pesquisa mostra interferência das árvores na lavoura em sistemas ILPF – 15/01/2019

A soja é mais tolerante à sombra das árvores em um sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) do que o milho. Essa é uma das conclusões da avaliação de cinco anos de diferentes configurações de sistemas integrados realizada no maior experimento de ILPF conduzido pela Embrapa, em Sinop (MT).

De acordo com resultados publicados por pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (MT), a lavoura de soja só apresentou redução na produtividade devido à menor incidência de sol a partir do quarto ano de implantação dos sistemas. Já o milho, cultivado em segunda safra, apresentou queda da produtividade desde o terceiro ano agrícola.

A pesquisa foi feita em um experimento de 72 hectares, em que sistemas de produção de soja/milho, pecuária de corte e eucalipto são comparados com todas as combinações possíveis de integração: ILP, ILF, IPF e ILPF (com rotação a cada dois anos e com lavoura na safra e pecuária na safrinha todos os anos). As áreas com componente arbóreo são formadas por renques triplos de eucaliptos, com espaçamento de 30 metros entre eles, plantados em sentido leste-oeste.

No caso da soja, embora não houvesse diferença no tamanho e porte das plantas até o quarto ano, a produtividade do sistema ILF teve uma queda de 18,4% quando comparada com a lavoura solteira na safra 2014/2015, a quarta do sistema. Nos demais sistemas com árvores não houve diferença estatística.

Já na quinta safra (2015/2016), a produtividade da soja teve queda de 24% nos sistemas ILF e ILPF com rotação a cada dois anos. No sistema mais intensificado de ILPF, com lavoura de soja e milho com braquiária, com pastejo após a colheita do milho, em todos os anos, a produtividade da oleaginosa foi semelhante ao sistema sem árvores.

O milho também só passou a apresentar diferenças estatísticas no tamanho médio das plantas a partir do quinto ano, com variação de até 19 cm na altura. As linhas de cultivo mais próximas às árvores na face sul foram as que apresentaram maior redução. Entretanto, variações na produtividade começaram a ser percebidas já a partir da terceira safra, com queda média de 19% nos tratamentos com árvores, em relação ao cultivo solteiro. Nas duas safras seguintes a queda foi de 37%.

Na média de produtividade dos cinco anos de avaliação, a soja teve redução de 13,1% no sistema ILF e de 8,6% nos sistemas ILPF. Já o milho apresentou queda média de 23,1% na ILF e de 19,4% na ILPF.

“O milho é uma planta exigente em luz, uma planta C4. E na nossa região ele é cultivado na safrinha, que pega a pior época em termos de luminosidade. Os dias são cada vez mais curtos até o início do inverno. Soma-se a isso a maior sombra projetada pelas árvores devido à maior angulação solar nessa época do ano”, explica o pesquisador Ciro Magalhães.

De acordo com o pesquisador, a incidência de radiação solar nos sistemas com árvores, comparada com a lavoura exclusiva, foi 17% menor no período de cultivo da soja e 33% menor no período em que o milho foi cultivado, dados medidos ao longo da sétima safra avaliada (2017/18).

 

 

Os efeitos da sombra em sistemas ILPF

Milho deve ser retirado do sistema?

Embora o milho apresente maior queda de produtividade, o bom manejo do componente florestal pode viabilizar a continuidade do plantio do grão em mais uma ou duas safras.

“Fazendo a desrama o mais alto possível, você possibilitará a entrada de mais luz no sistema, além de diminuir a evapotranspiração das árvores. Removendo a superfície foliar com a desrama dos galhos mais baixos, você reduz a demanda por água, consequentemente haverá menor competição por água e nutrientes entre as árvores e as plantas de soja e milho na zona mais próxima dos renques, fator que também provoca redução na produtividade de grãos”, explica Ciro, que ainda alerta para a necessidade da desrama para garantir a boa qualidade da madeira para serraria.

Outra alternativa é planejar sistemas ILPF com renques simples, com apenas uma linha de árvores. Na sequência do período avaliado no estudo, um dos tratamentos foi desbastado, de modo a ficar com apenas a linha central de árvores, em um espaçamento de 37 metros. De imediato a soja recuperou sua produtividade, não diferindo dos sistemas sem árvores. O milho também respondeu bem, recuperando parte de sua produtividade. Porém, ainda apresentou perdas, quando comparado com o sistema solteiro.

“Se você começar um sistema ILPF com renque simples, até o sétimo ano já sabemos que você pode cultivar a soja sem ter perdas de produtividade. Já o milho, mesmo com renque simples, com eucalipto de seis e sete anos, tem perdas de 15% a 23%”, afirma Ciro com base nas avaliações das safras 2016/2017 e 2017/2018.

Para saber até quanto de perda na produtividade do milho será compensada com o ganho na madeira será necessário esperar o fim do ciclo, com o corte final das árvores e a avaliação econômica completa do sistema.

Na opinião do pesquisador, alternativas como o cultivo de milho na safra (época com maior passagem de radiação nos sistemas) podem ser interessantes desde que o mercado compense. Do contrário, o melhor é fazer rotação com outras culturas, como arroz e feijão-caupi, por exemplo, ou ainda antecipar o boi safrinha.

“Uma das possíveis formas de se aproveitar melhor a área na ILPF seria cultivar a soja na safra e já plantar o capim na sequência. Seria um sistema de boi safrinha antecipado. Em 40 dias esse capim está formado e o boi já entra pastejando em uma área com oferta de sombra, comprovadamente benéfica para o desempenho dos animais”, sugere.

ILPF: mais renda usando mesmo espaço

Ao contrário do que uma análise superficial da lavoura possa sugerir, a pesquisa mostra que os sistemas ILPF valem a pena. Inclusive com resultados positivos nas árvores e na pecuária.

“Você está tirando mais produto de uma mesma área. Até o quinto ano, em um dos sistemas ILPF com renque triplo, a produtividade da soja foi igual. Ou seja, estou produzindo soja com a mesma produtividade e tenho árvores crescendo ali que vão me dar renda no futuro”, destaca Ciro.

De acordo com a pesquisa, até o quarto ano as árvores no sistema integrado tiveram comportamento semelhante às árvores em monocultivo, com incremento médio anual de 31 m³/ha. O número é abaixo da média nacional para Eucalyptus urograndis, de 39 m³/ha, porém superior à média de Mato Grosso, que é de 23,8m³/ha/ano.

Troncos maiores na ILPF  

Já no quinto ano as avaliações demonstraram maior ganho em diâmetro na ILPF, com média de 3,8 cm/ano contra 3,2 cm/ano no sistema de silvicultura solteira. De acordo com o pesquisador Hélio Tonini, isso evidencia a maior competição por luz na monocultura. 

Porém, até o quinto ano não foi identificada variação significativa no volume de madeira entre os indivíduos comparados.

A continuidade da pesquisa, no entanto, vem mostrando que o manejo das árvores, como a retirada das linhas laterais e manutenção da linha central, tem grande impacto no crescimento do diâmetro e no aumento do volume. Em dois anos, o ganho em volume da área com linha simples chega a ser 54% maior do que na área com monocultura e 25% maior do que na área com renques de linhas triplas, afirma o pesquisador da Embrapa Maurel Behling.

Melhor desempenho forrageiro e animal

pecuária de corte, por sua vez, apresentou ganhos quando integrada com a lavoura e a floresta. A mensuração do acúmulo de forragem foi 34% superior nas áreas precedidas por lavoura. Isso se refletiu em maior ganho de peso dos novilhos nelore. Nos sistemas ILPF o ganho de peso médio por animal foi de 740 g/dia, 21% superior à ILP, 38% superior à pastagem exclusiva e 24% superior à IPF.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Bruno Pedreira, responsável pela avaliação do componente pecuário, os dados mostram a sinergia dos componentes. “A interação entre eles gera ganhos que muitas vezes nem se consegue identificar onde estão”, afirma o especialista.

Avaliação econômica

Todos os dados para a avaliação econômica desse experimento foram coletados, entretanto, ainda não foram analisados. De toda forma, outras pesquisas realizadas em parceria entre Embrapa, Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e Rede ILPF têm demonstrado a viabilidade econômica dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta.

Uma pesquisa divulgada recentemente demonstrou inclusive como esses sistemas contribuem para o aumento da segurança do produtor. Ao variar as fontes de receita, ele está menos vulnerável às possíveis variações nos preços das commodities.

O trabalho mostrou ainda que mesmo nos piores cenários simulados, com queda de 15% no preço da soja ou da arroba do boi gordo, a ILPF permanece lucrativa.

O pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis lembra que em um sistema integrado, nenhum resultado pode ser visto de maneira isolada. É preciso olhar o sistema como um todo. A queda de produtividade em um componente pode ser compensada pelo ganho em outro.

 
Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria (MTb 15.624/MG) 
Embrapa Agrossilvipastoril 

ILPF reduz riscos de mercado para produtores – 07/08/2018

 

Gabriel Faria - Integrar lavoura, pecuária e floresta diversifica investimentos e reduz riscos financeiros ao produtor

Integrar lavoura, pecuária e floresta diversifica investimentos e reduz riscos financeiros ao produtor

 

A diversificação de culturas proporcionada pelos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) reduz os riscos de mercado e garante maior segurança para os produtores. A comprovação foi feita por pesquisadores da EmbrapaRede ILPF e Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Em um trabalho inédito, eles mostram que os sistemas integrados são menos sensíveis às variações de preços das commodities do que sistemas produtivos exclusivos de lavoura ou de pecuária.

Tomando como base os dados econômicos de uma Unidade de Referência Tecnológica de ILPF localizada no município de Barra do Garças (MT) e dados de fazendas de referência para a região, uma de agricultura e outra de pecuária (cria), os pesquisadores fizeram testes de sensibilidade. Simularam o impacto de diferentes variações de preços da soja, milho e da arroba de boi em cada propriedade. Os cenários variaram desde a queda no preço em 15% até o aumento em 15%.

Simulando a oscilação no preço das commodities agrícolas, enquanto a fazenda com ILPF apresentou uma variação no índice de lucratividade entre a queda de 28% e aumento de 28%, a propriedade só com lavoura variou sua lucratividade de -47% a 44%.

Da mesma forma, oscilando o preço da arroba de boi, a fazenda de ILPF teve variação na lucratividade entre -6% e 6% e a fazenda de pecuária entre -14% e 17%.

A pesquisa não incluiu simulações com variação no preço da madeira devido à inexistência de uma série histórica de preços para madeira plantada em Mato Grosso.

 

Arte: Renato Tardin

 

 

De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Júlio César dos Reis, os resultados demonstram que o sistema ILPF é menos sensível a variações nos preços, tanto para variações positivas quanto negativas. Além disso, em situações extremas, de queda ou alta de preços, a ILPF se mostra mais estável do que os cultivos exclusivos.

Esse resultado é importante em um cenário em que os produtores vivem constantemente com o desafio de maximizar os lucros e reduzir os riscos. Porém, o cientista alerta que todo o planejamento feito pode ser perdido devido às oscilações de mercado que fogem ao controle de dentro da porteira.

Júlio César explica que a lavoura se mostra mais sensível às variações de preços devido ao efeito escala de produção, à maior tecnologia envolvida e aos custos de produção mais elevados.

 “A fazenda referência de lavoura apresenta um nível de adoção de tecnologia muito maior do que as práticas produtivas que configuram o aporte tecnológico utilizado no sistema de produção de referência de pecuária. E, mesmo considerando que a fazenda com ILPF apresenta uma mistura de ambos os sistemas e, consequentemente, de práticas, tecnologias e custos, os resultados do sistema ILPF se mostram superiores em todas as situações”, analisa o pesquisador.

 

ILPF é lucrativa mesmo com quedas pontuais de preços

Outro apontamento da pesquisa é que mesmo nos cenários com maior queda de preços das commoditiesagrícolas ou da arroba, a ILPF sempre se mostra lucrativa. Ao contrário das fazendas de lavoura e de pecuária, que com queda de 5% no preço já passam a dar prejuízos.

 

  Arte: Renato Tardin

Índice de lucratividade representa o retorno para cada R$ 1 investido. Dessa forma, números iguais ou superiores a 1 significam lucro e abaixo de 1 mostram que a atividade gerou prejuízo.

 

 

Para os pesquisadores, os dados levantados demonstram que os sistemas ILPF podem ser considerados estratégias viáveis e competitivas para minimizar os riscos de mercado, proporcionando melhores condições para os produtores se planejarem à longo prazo.

“Os impactos nos indicadores da ILPF foram menores, indicando sua capacidade de minimizar alterações nos retornos esperados, aspecto fundamental para produtores avessos ao risco e atuantes em mercados altamente competitivos”, afirma Júlio César dos Reis.

O pesquisador ressalta, entretanto, que os dados obtidos na avaliação feita em Mato Grosso podem sofrer alterações em outras regiões e com diferentes sistemas produtivos. Por isso, considera fundamental que novos estudos sejam feitos, de modo a dar mais subsídios aos produtores.

Commodities independentes

Para chegar aos resultados sobre a sensibilidade dos sistemas produtivos, os pesquisadores fizeram antes um teste de cointegração. Trata-se de uma análise estatística de séries temporais que foi utilizada para avaliar a relação entre as variações de preços das principais commodities para o estado de Mato Grosso.

“A diversificação é um dos argumentos positivos na ILPF. Mas precisávamos ver a forma como as commoditiesse comportam e se há alguma dependência entre elas. Pois não adianta diversificar os produtos se eles têm um comportamento semelhante ao longo do tempo”, explica a consultora da Rede ILPF Mariana Takahashi.

Avaliando a série histórica de preços de soja, milho, algodão e arroba de boi gordo, de janeiro de 2009 a setembro de 2017, e utilizando diferentes metodologias de análise, eles chegaram à conclusão de que não há dependência entre os mercados das commodities. Ou seja, a variação de preço em uma não interfere na outra.

“Vimos que são mercados diferentes. Eles podem até se relacionar de alguma forma, sendo os grãos usados na alimentação animal e o milho e o algodão sendo culturas de segunda safra, por exemplo. Entretanto, estatisticamente, demonstramos que ao longo do tempo não há relação entre os preços. Cada mercado se comporta individualmente”, afirma a consultora da Rede ILPF.

Pela revisão bibliográfica feita pelos pesquisadores, esse deve ser o primeiro trabalho a correlacionar tantas commodities. Mariana Takahashi explica que a maior parte das pesquisas correlacionam um mesmo produto, observando a relação entre seu preço no mercado interno e externo, ou no máximo dois deles. Com a maior complexidade da ILPF, entretanto, passou-se a ter a necessidade de fazer uma avaliação mais ampla.

O resultado obtido reforça o papel da ILPF como uma estratégia de produção mais segura. “A relativa independência dos mercados de commodities e, como consequência, a não correlação entre os respectivos preços de mercado oferecem possibilidades para minimizar os riscos de mercado via diversificação da produção”, conclui Júlio César dos Reis.

 

Foto: Gabriel Faria 

Gabriel Faria (MTb 15.624/MG) 
Embrapa Agrossilvipastoril 

ILPF aumenta em cinco vezes a produção de carne em Mato Grosso – 11/10/2016

Com uma produtividade de até 32 arrobas por hectare em um ano, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) conseguiu uma produtividade cinco vezes maior do que a média nacional e oito vezes maior do que a média de Mato Grosso. O resultado foi obtido no primeiro ano de avaliação do componente animal na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT).

A área avaliada conta com pasto de Brachiaria brizanthacv Marandu semeado após dois anos de lavouras de soja na safra e milho consorciado com braquiária na safrinha. Além disso, a área possui a cada 37 metros uma linha de eucalipto. As árvores proporcionam a ciclagem de nutrientes no sistema e acesso à sombra aos animais da raça Nelore.

O período de avaliação do gado foi de julho de 2015 a julho de 2016. Além da área de ILPF, foram comparados outros tratamentos com pecuária exclusiva, com integração lavoura-pecuária (ILP) e em sistema silvipastoril (IPF), com renques de linhas triplas de eucalipto a cada 30 metros.

O melhor desempenho obtido foi na área que integra lavoura, pecuária e as árvores, com o ganho entre 29 e 32 arrobas por hectare. O segundo tratamento mais eficiente foi a integração lavoura-pecuária, sistema que vem sendo amplamente adotado em Mato Grosso. Em pasto formado após dois anos de lavoura, porém sem as árvores, a produtividade ficou entre 20 e 24 arrobas por hectare.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Bruno Pedreira, a produtividade obtida é reflexo do manejo adotado e da sinergia entre os componentes do sistema produtivo.

“Um bom manejo do pastejo, ajuste da taxa de lotação com orçamentação forrageira da fazenda, uso da lavoura e uso do componente florestal. Tudo isso para que se tenha os benefícios da lavoura, que propicia maior produção de capim, o benefício da árvore oferecendo ambiência e desempenho melhor para os animais, para que no fim do dia possamos colher mais num mesmo hectare de terra”, explica o pesquisador.

No sistema silvipastoril e na pecuária exclusiva, a produtividade média obtida no experimento foi em torno de 17 arrobas por hectare. O número é menor do que nos sistemas precedidos pela lavoura, mas ainda assim é bem superior à média da pecuária em Mato Grosso, que está em torno de quatro arrobas por hectare, e à média nacional, de seis arrobas por hectare.

De acordo com Bruno Pedreira, esse número também deve ser ressaltado, uma vez que mostra que mesmo
sem adotar a ILPF, é possível aumentar a produtividade. Para isso, é preciso que o produtor faça a adubação
de manutenção da pastagem e o ajuste da taxa de lotação em função da disponibilidade forrageira.

Em todos os tratamentos da pesquisa, a pastagem recebeu adubação de manutenção no mês de dezembro. Foram adicionados 50 kg de nitrogênio e potássio e 40 kg de fósforo por hectare. O pasto, por sua vez, foi manejado na altura de 30 cm, adicionando ou retirando animais de acordo com a demanda da planta
forrageira. Os animais, que entraram no experimento com cerca de 335 kg, receberam suplemento proteinado
de 0,1% do peso vivo.

Conforto térmico

Os resultados do primeiro ano de avaliação da pecuária de corte em sistema ILPF também demonstraram a importância do conforto térmico para o ganho de peso dos animais. Mesmo tratando-se da raça Nelore, considerada mais rústica e adaptada às altas temperaturas, a disponibilidade da sombra apresentou resultados consideráveis.

Bruno Pedreira explica que, na avaliação, o ganho de peso médio diário variou de 660 g/dia no sistema com árvores para 550 g/dia do sistema sem arborização, o que resultou em uma diferença de oito arrobas por hectare.

“Penso que a gente achou aquilo que está escrito nos livros, que é o sinergismo entre os componentes. Quando a gente junta os componentes, há um ganho que não conseguimos nem pegar onde ele está exatamente. Mas tem mais oito arrobas a mais ali”, pondera.

Dados do comportamento animal também reforçam a tese do benefício das árvores para a pecuária no sistema ILPF. Levantamentos feitos no mesmo experimento mostraram que os bois ficaram 90% do tempo de ruminação e 76% do seu período de ócio na sombra.

“Temos um indicativo de que o desempenho pode melhorar com a sombra. A única diferença que temos entre os tratamentos ILP e ILPF é a presença de árvores. Então, por algum motivo, em algum lugar lá dentro esse ganho está sendo aditivado ao sistema. Isso pode estar relacionado à ciclagem de nutrientes, à sombra, à temperatura. Há quem diga, inclusive, que os animais estão mais tranquilos com as árvores”, diz o pesquisador.

De acordo com Pedreira, é possível que no segundo ano do experimento sejam obtidas mais informações que ajudem a entender o efeito das árvores no desempenho da pecuária. Além da avaliação da qualidade da forragem, serão utilizados animais mais jovens, de 230 kg. Com este perfil, os bezerros tendem a ser mais sensíveis a alterações do ambiente, acusando de maneira mais acentuada os efeitos do sombreamento.

Outra novidade neste segundo ciclo de avaliação é o aumento da oferta de nutrientes para as forrageiras e de suplemento proteinado aos animais. Em ambos os casos, as doses serão dobradas, chegando a 100 kg de nitrogênio e potássio, 80 kg de fósforo e 0,2% de proteinado.

Parcerias

As pesquisas sobre ILPF voltadas para a pecuária de corte na Embrapa Agrossilvipastoril são realizadas por meio de uma parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte) e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

As instituições envolvidas acompanham de perto a pesquisa, por meio de reuniões, visitas técnicas e dias de campo. Para o superintendente da Acrimat, Francisco Manzi, os resultados obtidos reforçam uma iniciativa já presente no campo, que é a intensificação da produção.

“A intensificação é a grande saída para os pecuaristas tanto pelo aumento da rentabilidade, garantindo a sobrevivência do negócio em algumas propriedades, quanto pela diversificação das atividades e pelo atendimento da demanda da sociedade por uma produção maior em uma mesma área”, afirma Manzi, que ainda destaca o papel desta pesquisa no incentivo aos pecuaristas para que possam intensificar ainda mais a atividade.

Simpósio de Pecuária Integrada

Os resultados desta pesquisa estão sendo submetidos a publicações científicas. Entretanto, eles serão apresentados no dia 15 de outubro, durante um dia de campo, que faz parte da programação do II Simpósio de Pecuária Integrada (Simpi). O Simpi será realizado em Sinop (MT), de 13 a 15 de outubro.

Com o tema “Recuperação de pastagens”, o Simpósio irá discutir diversos pontos da cadeia produtiva da carne. Entre os assuntos abordados nas palestras estão a recuperação de pastagens, manejo de plantas daninhas e insetos-praga, ILPF na recuperação de pastagem, nutrição e adubação de plantas forrageiras, produção de silagem, melhoramento genético animal, semiconfinamento e confinamento, desafios sanitários entre outros.

Um dia de campo na área experimental da Embrapa Agrossilvipastoril encerrará a programação, abordando a lavoura, a pecuária e o plantio florestal em sistema de ILPF.

As inscrições para o II Simpi podem ser feitas pelo site www.pecuariaintegrada.com.br. O Simpósio é organizado pela Embrapa, UFMT, Grupo de Estudo em Pecuária Integrada (Gepi), Senar-MT e MT Ciência.

 
Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria (MTb 15.624/MG) 
Embrapa Agrossilvipastoril 

Nova etapa de pesquisa avalia fêmeas nelore em sistema ILPF em Mato Grosso – 11/02/2019

11/02/19

Novilhas serão avaliadas em quatro diferentes sistemas produtivos

Pesquisadores da Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop, MT) estão iniciando uma nova etapa nas pesquisas com pecuária de corte em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Após avaliar por três anos o ganho de peso de machos, os trabalhos agora serão direcionados a acompanhar novilhas da raça nelore.

A pesquisa é realizada por meio de uma parceria entre a Embrapa e as Associações de Criadores de Mato Grosso (Acrimat) e do Norte de Mato Grosso (Acrinorte). A Acrimat ajuda no custeio da manutenção do rebanho, já a Acrinorte fornece os animais, que são cedidos temporariamente por pecuaristas associados.

Ao todo serão 160 novilhas de aproximadamente um ano de idade. Elas serão divididas em lotes e distribuídas em quatro diferentes sistemas. Um é a pecuária convencional, que servirá como comparativo para o estudo. Outro é a integração lavoura-pecuária, onde a pastagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu é intercalada de dois em dois anos com lavoura de soja na safra e milho com braquiária na safrinha. Também serão avaliados animais em sistema silvipastoril, com renques triplos de eucalipto, e em sistema agrossilvipastoril, com renques simples e triplos de eucalipto e alternância entre lavoura e pecuária a cada dois anos.

De acordo com o pesquisador e coordenador do trabalho, Luciano Lopes, as novilhas serão inseminadas no meio do ano e o objetivo é comparar os animais nos diferentes sistemas produtivos e entender qual deles é mais favorável para fazer a cria.

“Pelas pesquisas já realizadas, sabemos que o renque simples tem maior vantagem do ponto de vista de produção de forrageira, mas o renque triplo tem uma condição mais sombreada. Talvez para a fêmea, do ponto de vista reprodutivo, seja mais interessante. É algo que precisamos avaliar”, explica Luciano.

Neste trabalho, pesquisadores da Embrapa e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desenvolverão avaliações para diferentes características e indicadores.

“Vamos avaliar a precocidade sexual desses animais, depois a fase reprodutiva em si, com parâmetros como a quantidade de hormônios e comportamento sexual desses animais. No futuro, depois que os animais parirem, acompanharemos desde o parto até a desmama dos bezerros”, explica Luciano Lopes.

A pesquisa também envolverá ações com uso de drones com sensores embarcados e posterior processamento das imagens como forma de levantamento da área de cobertura da forrageira e do volume de biomassa produzido.

Proximidade com o setor produtivo

O experimento em que as pesquisas serão feitas é o maior com sistemas ILPF conduzido pela Embrapa. Instalado no fim de 2011, a base experimental é usada por uma equipe multidisciplinar que colhe dados de diferentes áreas do conhecimento, como qualidade do solo, ciclo de carbono, microclima, sanidade animal e vegetal, emissão de gases de efeito estufa, entre outros.

A realização das pesquisas com a pecuária em parceria com o setor produtivo é uma forma de aproximar os produtores dos inúmeros resultados obtidos neste experimento.

“Ao longo destes anos tem sido muito satisfatória a parceria com a Embrapa e, nesta nova etapa, certamente não será diferente. Com esse novo foco nos experimentos, esperamos que nossos pecuaristas possam ser contemplados com as novidades que forem trazidas e assim continuarmos sendo detentores do maior rebanho de gado do país”, afirma o presidente da Acrimat, Marco Túlio Duarte Soares.

Para esta nova fase, quatro pecuaristas cederam animais. De acordo com o presidente da Acrinorte, Olvide Galina, o grande interesse dos associados em contribuir com a pesquisa fornecendo o gado é uma amostra do anseio pelos resultados.

“No caso das fêmeas, o pecuarista não tem conhecimento suficiente como já tem com os machos. A pesquisa com as fêmeas é mais interessante. Todos estão ansiosos, pois o produtor faz do jeito dele, mas não mensura. Não conseguimos medir na fazenda para ter os resultados das avaliações que a Embrapa terá. Agora saberemos qual a melhor forma de fazer a cria”, avalia Galina.

Associado da Acrinorte, o pecuarista Invaldo Weiss forneceu 40 novilhas para o experimento, o que faz com que a expectativa seja ainda maior. Ele poderá comparar os resultados da pesquisa da Embrapa com o desempenho de novilhas contemporâneas às que cedeu e são mantidas em área de integração lavoura-pecuária em sua propriedade no município de Santa Carmem (MT).

“Talvez não tenha grande diferença em ganho de carcaça, mas acho que a condição mais favorável dos sistemas com árvores poderá levantar o índice de prenhez. Novilhas desafiadas jovens têm um desempenho pior e a ILPF pode melhorar isso”, pondera Invaldo Weiss.

 

Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria (mtb 15.624 MG JP) 
Embrapa Agrossilvipastoril 

Dez erros para não cometer na ILPF – 15/02/2018

 

Os sistemas integrados de produção agropecuária, como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) trazem benefícios agronômicos, ambientais, sociais e econômicos para os produtores. Entretanto, por serem mais complexos, exigem também maior atenção e mais cuidados.

Atualmente, mais de 11,5 milhões de hectares no Brasil já são cultivados com alguma configuração de ILPF. O aumento constante na adoção demonstra um domínio da tecnologia cada vez maior por parte dos produtores.

Entretanto, as experiências já existentes mostram alguns erros que podem ser evitados por quem está começando a trabalhar com a integração.

Confira abaixo alguns desses erros e veja como fazer para não cometê-los.

 

1 – Não estudar o mercado anteriormente

O ingresso na ILPF, assim como em qualquer atividade produtiva, deve ser feito pautado em estudo prévio de mercado. É preciso saber de antemão se há logística para a chegada de insumos e escoamento da produção, se há fornecimento local de mão-de-obra e de serviços que serão demandados e, principalmente, para quem irá comercializar a produção.

A falta desse estudo prévio pode resultar em dor de cabeça e prejuízos para o produtor.

“A escolha da espécie tem que ser feita de acordo com o mercado. Você vai ter para quem vender? E isso não vale só para árvores. Estou falando de tudo. Não é em qualquer lugar que você pode plantar soja, por exemplo. Tem que ter uma logística, armazenamento, comercialização”, explica o analista do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, Miqueias Michetti.

Em alguns casos, a própria fazenda pode absorver parte da produção. É o caso dos grãos usados em um sistema de confinamento ou semi-confinamento, ou da madeira usada como lenha no secador de grãos ou como lascas para as cercas. Ainda assim, é preciso usar a quantidade certa para evitar excedente do produto sem saída comercial.

 

2 – Erro na implantação e manejo do consórcio de milho com capim

Uma estratégia muito utilizada na integração lavoura-pecuária é o consórcio de milho com capim, principalmente as braquiárias. Com essa técnica, o produtor ganha tempo, aproveita melhor o período chuvoso e mantém o solo sempre protegido.

Porém, a implantação e o manejo do consórcio são feitos de acordo com o objetivo do produtor. Se o capim for usado somente como palhada, usa-se menor quantidade de sementes da forrageira e prioriza-se o milho. Já se o objetivo é a formação de uma pastagem após a colheita do grão, aumenta-se a quantidade de sementes da forrageira.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Fernanda Ikeda, não fazer o correto planejamento da implantação do consórcio em função do objetivo final pode implicar em aumento de custos para o produtor e em queda no rendimento.

Se o número de sementes é elevado numa lavoura que prioriza a produção de milho, a competição com o capim pode levar à menor produtividade do grão.

O uso de espaçamentos maiores na lavoura de milho também pode favorecer o crescimento do capim, levando à necessidade de uma supressão desse crescimento com uso de herbicidas. Consequentemente, aumenta-se o custo de produção.

Outro erro que pode ser cometido é o uso de doses inadequadas de herbicida para controlar plantas daninhas na lavoura levar á morte do capim. Nesse caso, perde-se não só o investimento no consórcio como também o todo o resultado benéfico esperado.

 

3 – Não deixar palhada para a lavoura

Uma atitude comum dos produtores em um sistema de integração lavoura-pecuária é a de aumentar a lotação das pastagens no fim do período seco para baixar o capim antes de ser dessecado para o plantio da lavoura.

Entretanto, é preciso cuidado para que o excesso de pastejo não reduza o capim de modo a deixar palhada insuficiente para cobertura do solo na cultura agrícola.

O pesquisador da Embrapa Eduardo Matos explica que pesquisas mostraram que em alguns casos, o pastejo excessivo chegou a reduzir o estoque de matéria orgânica no solo, ou seja, teve o efeito inverso ao desejado na ILP.

De acordo com ele, para que haja acúmulo de matéria orgânica no solo e que a palhada exerça sua função protetora, o ideal é que o produtor retire os animais 30 a 40 dias antes da semeadura, permitindo a rebrota antes da dessecagem.

 

4 – Regulagem da plantadeira

Em um sistema de ILP, o ideal é que se tenha uma palhada uniforme e robusta para que se obtenha o melhor resultado de cobertura e acúmulo de matéria orgânica. Porém, é preciso ficar atento à regulagem de plantadeira.

Uma plantadeira desregulada pode depositar as sementes no meio da palha e não no solo, causando falhas no plantio e perdas para o produtor.

Dessa forma, é preciso ficar atendo à altura de profundidade do disco de corte, regulando a máquina corretamente para a quantidade de palhada na lavoura.

 

5 – Falta de adubação na pastagem

Em um sistema de integração lavoura-pecuária, a pastagem retorna ao sistema aproveitando o resíduo da adubação da lavoura que o precedeu. Entretanto é preciso que durante o período em que a pecuária ocupe a área, seja feita a adubação de manutenção. Essa prática ajudará a manter a fertilidade do solo, aumentará a produtividade da pecuária, garantirá maior acúmulo de matéria orgânica no solo e evitará a compactação.

Fazendo isso, ao retornar com a agricultura ao sistema produtivo, o solo estará em boas condições, não necessitando grandes intervenções antes da semeadura.

Uma possível economia com adubação da pastagem poderá sair resultar em maiores gastos no retorno da lavoura.

 

6 – Superlotação das pastagens

Da mesma forma que a falta de adubação de manutenção, a superlotação das pastagens é um erro em um sistema de integração lavoura-pecuária ou no sistema silvipastoril (IPF).

O pastejo excessivo pode provocar a redução da quantidade de plantas da forrageira. Com isso, o solo fica exposto, aumenta a incidência de plantas daninhas e começa um processo de degradação da pastagem. Como consequência, além de ter menor quantidade de palhada para a agricultura, a recuperação do solo pode implicar em maiores custos para o produtor.

Em um sistema de integração pecuária-floresta, a número excessivo de animais pode, além de causar a degradação da pastagem, provocar danos nas árvores. O estresse e a competitividade por alimentos podem levar o gado predar o tronco. Além de estragar a madeira, um possível anelamento do caule provoca a morte da árvore.

 

7 – Espaçamento da espécie florestal

A escolha errada do espaçamento entre os renques com espécies florestais em sistemas ILPF pode colocar todo o sistema em risco. Para isso, é preciso estudar antecipadamente o perfil de crescimento da árvore e o comportamento da copa, levar em consideração o objetivo com o sistema produtivo e então definir o melhor espaçamento.

Pesquisas e experiências de quem já vem usando o sistema mostram que espaçamentos menores do que 20 metros obstruem muito a entrada de luz no sistema, prejudicando o crescimento da lavoura ou da planta forrageira.

Algumas árvores com copas mais largas demandam espaçamento ainda maior, a partir de 30 metros. É o caso de nativas como o pau-de-balsa e o paricá.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Jorge Lulu, na comparação entre dois sistemas com eucalipto, um com espaçamento de 50 metros e outro de 15 metros, observou-se uma redução de até 37% na incidência de raios solares.

Longas distâncias, entretanto, apesar de ainda garantirem a sombra para o gado, reduzem o efeito da interação entre os componentes, como a ciclagem de nutrientes, por exemplo.

Outro fator relevante é o número de linhas em cada renque. Dependendo do objetivo de uso da madeira, renques com mais de uma linha podem não ser boa ideia.

Para uso em serraria, a linha simples tem se mostrado como a melhor alternativa, pois garante o crescimento ereto das árvores. Em linhas duplas e nas linhas externas de renques com linhas triplas, as plantas crescem tortas em busca de luz solar, reduzindo o valor da madeira.

 

8 – Deriva de herbicidas nas árvores

Ao se cultivar lavoura entre renques de árvores, é preciso cuidado especial com a pulverização de herbicidas. Qualquer descuido pode provocar a deriva nas espécies florestais causando danos ao seu crescimento, brotação excessiva, bifurcação de tronco ou até mesmo levando à morte de plantas jovens.

O engenheiro florestal da Embrapa Diego Antonio alerta que para evitar que esses problemas ocorram, a pulverização deve ser feita em dias sem vento e com temperaturas mais amenas, em baixa velocidade e utilizando bicos anti-deriva nas pontas da barra de pulverização.

Outra medida eficiente é deixar uma faixa de 1m a 1,5 m entre a lavoura e a linha de árvores,

 

9 – Descuido no manejo da espécie florestal

A economia evitando operações de manejo nas espécies florestais, como poda, desrama, combate à formigas e capina podem sair caro para o produtor no momento de comercializar o produto. O manejo inadequado durante a fase de crescimento da planta tem impacto direto no crescimento e na formação do fuste da árvore.

Uma árvore com tronco bifurcado, cheia de nós e com outros danos perde valor comercial. Na maioria dos casos essa perda chega a ser muito maior do que as despesas evitadas nos anos anteriores.

“Se você gastar mais no começo, a garantia de ter um bom resultado final é muito maior. Deixar de gastar com certos manejos no processo faz com que seu produto valha muito menos no final”, afirma a consultora da Rede ILPF Mariana Takahashi.

 

10 – Não existe um modelo ideal

Cada sistema de integração é particular. Não existe um modelo que vá se ajustar a todas as propriedades, mesmo que tenham perfil semelhante.

Para adotar qualquer configuração de sistema ILPF é preciso um estudo prévio, avaliar a aptidão do produtor, maquinário disponível, características da propriedade, disponibilidade de mão-de-obra, mercado local, logística, disponibilidade de crédito, entre outros fatores.

Dessa forma, a estratégia adotada em uma fazenda pode não ser a melhor para a propriedade vizinha.

O melhor a se fazer é contar com auxílio de um consultor técnico para se fazer um bom planejamento e evitar surpresas no futuro. 

 
Foto: Gabriel Faria

Gabriel Faria (MTB 15.624 MG JP) 
Embrapa Agrossilvipastoril